É verdade que Israel tem direito à autodefesa depois de ter sofrido o maior atentado de sua história, em 7 de outubro de 2023. É verdade que tanto o Hamas quanto o Hezbollah, dois grupos terroristas, usam as populações de Gaza e do sul do Líbano, respectivamente, como escudos humanos.
Mas isso não dá o direito a Israel de atacar as Nações Unidas, desrespeitar o direito internacional e infringir a garantia de inviolabilidade dos capacetes azuis.
O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu erra o cálculo ao se arvorar o direito de redesenhar as fronteiras do Oriente Médio e de buscar estabelecer uma nova ordem regional. Seu governo não apenas rasga as garantias de convivência entre as nações como desqualifica o único caminho viável ao dia seguinte da guerra, para o qual não há plano apresentado publicamente até agora.
A ONU falha em não garantir a paz global, é atropelada pela realpolitik, tornou-se um condomínio em que as regras vale para uns e não para outros e, António Guterrez, um síndico desconsiderado e sem poder de punição. Mas, quando e se um dia os canhões silenciarem no Oriente Médio, se não forem as Nações Unidas a assumir o papel de interlocutora de uma paz duradoura, veremos, rapidamente, o ressurgimento dos grupos terroristas. Não espere essa função da Autoridade Nacional Palestina (ANP) ou da Liga Árabe, que podem e devem apoiar vozes moderadas, mas não são atores independentes.
Com o modus operandi atual, ao violar a Unifil, a quem se socorreu em 2006, Israel caminha na direção de tantos exércitos libertadores que se transforaram em ocupantes. Em 2003, o então presidente dos EUA George W. Bush ordenou a invasão do Iraque como uma extensão da chamada Guerra ao Terror iniciada após os atentados terroristas de 11 de setembro de 2001. Do Afeganistão, que abrigava o arquiteto do horror, Osama bin Laden, Bush ampliou o conflito ao Iraque, que era uma ditadura sanguinária, mas que não tinha nada a ver com os aviões jogados contra Nova York e Washington. Não tenho dúvidas de que o mundo é melhor sem Saddam Hussein, assim como seria melhor sem o regime dos aiatolás do Irã ou os terroristas do Hezbollah ou Hamas. Mas a guerra de Netanyahu, assim como a de Bush o fora no passado, pode se tornar um pântano. Por maior que seja a capacidade militar da única potência nuclear do Oriente Médio, sem apoio internacional Israel fica menor - e mais vulnerável.