Tenente-coronel da reservadas Forças de Defesa de Israel, Sarit Zehavi é conhecida como "os olhos de Israel para o Norte", uma das áreas mais perigosas do mundo na atualidade. Ela serviu por 15 anos no Corpo de Inteligência do exército israelense, inicialmente em pesquisa e análise e mais tarde no Comando do Norte.
Fundadora do Centro Alma, de pesquisa e educação, Sarit costuma fazer análises sobre segurança no Líbano e na Síria que embasam posições de políticos em Washington, tamanha sua influência. É reconhecida mundialmente como uma autoridade especializada e palestrante nas questões de segurança que Israel enfrenta hoje e foi selecionada pelo Jerusalem Post como uma das 50 personalidades judaicas mais influentes de 2021.
Você é considerada os olhos de Israel no Norte, "a mulher que vigia o Hezbollah", como dizem. Você poderia explicar o seu trabalho?
Eu criei um centro de pesquisa e educação chamado Alma. A ideia é criar uma plataforma de conhecimento sobre os desafios de segurança de Israel nas fronteiras do Norte, com base no que vemos, porque todos nós vivemos aqui, e no que lemos na mídia e nas redes sociais em árabe. Combinamos isso com nossa análise e análise do terreno.
Esse tipo de informação que você produz é repassada ao governo ou às forças armadas?
Não, pelo contrário. Não recebemos nenhuma informação ou apoio de nenhum governo. É uma organização independente. A ideia era criar uma plataforma independente.
Como avalia a situação agora? Qual é a diferença entre esta guerra e 2006?
Resumiria em duas palavras a diferença: Iron Dome (o Domo de Ferro, o sistema de defesa antiaérea de Israel). Essa é a diferença. Temos o Iron Dome, que nos fornece sensação de normalidade nesta situação de anormalidade, porque não é (uma garantia de) 100%, e ainda temos de ter cuidado com os escombros. Mas é uma realidade diferente de 2006. Há foguetes e mísseis sendo lançados todos os dias para o norte de Israel desde 7 de outubro. Até as Forças de Defesa de Israel começarem uma ofensiva em meados de setembro, a média era entre 40 a 60 ataques por semana. Em cada um, pode-se ter algumas dezenas de foguetes, alguns mísseis antitanque lançados contra pessoas, contra agricultores, contra casas… Desde que Israel passou à ofensiva, temos uma média de cem a 200 foguetes por dia.
Como você analisa a estratégia israelense para o sul do Líbano? Haverá uma invasão em larga escala ou operações limitadas como as que ocorrem?
Depende das descobertas no terreno e da análise que as forças farão sobre o quanto é capaz de destruir com os ataques feitos pelo ar. Não estamos aficionados em fazer uma ampla invasão ao Líbano. Aqueles de nós na minha idade, por volta dos 50, vivenciaram como é estar por muitos anos no Líbano, o que isso provoca no Estado de Israel, na sociedade israelense, aos nossos soldados. Não queremos isso. Mas, se tivermos que fazer, faremos. É por isso que acho que as Forças de Defesa estavam tentando obter o máximo possível de conquistas militares com os ataques aéreos. Não sei se você viu os vídeos que estão saindo do Líbano por meio dos soldados de Israel, é uma infraestrutura inacreditável. Como uma pessoa que mora aqui, eu sabia de tudo. Eu sabia que o Hezbollah estava totalmente preparado para uma invasão. Eu os via na fronteira todos os dias. Mas ver as descobertas de túneis abaixo das camas, das crianças, armas na sala de estar, a preparação total para uma invasão... Depois do de 7 de Outubro no Sul, não consigo nem encontrar palavras para descrever como nos sentimos.
Já houve vários soldados israelenses mortos. O Líbano é um trauma para Israel?
Sim, o Líbano é um trauma para Israel. É por isso que eu disse que não queremos entrar no Líbano com uma invasão terrestre completa. Mas faremos isso se for preciso, porque 7 de Outubro também é um trauma para Israel. Não podemos permitir que isso aconteça novamente. O Hezbollah estava planejando fazer isso e estava preparado para fazer isso. E nAlma Center, escrevemos sobre isso no verão de 2023. E avisamos que isso ia ocorrer.
Como será a resposta ao Irã?
Realmente não sei o que o governo vai decidir. Se eu fosse o governo, eu miraria as instalações nucleares. Se é possível, não sei. Essa é uma oportunidade para lidar com a ameaça global. O mundo inteiro vai unir forças conosco para agir contra as capacidades nucleares do Irã antes que seja tarde demais. Depois de tudo o que vimos no mês passado, o mundo inteiro deveria saber o que estamos enfrentando. Estamos enfrentando um risco global que vem do próprio Irã.
Muito se fala em riscos de uma guerra regional ou mesmo de uma Terceira Guerra Mundial. Quão perto estamos dessa hipótese?
Não sei. É preocupante ver a colaboração entre Irã, China, Rússia, Venezuela e Coreia do Norte. Mas eu realmente não sei. Se você olhar para a história, verá que, mesmo com a Guerra Fria, não terminou em uma Terceira Guerra Mundial. Ainda tenho esperança. Mas penso que, para ter esperança, o mundo inteiro deve entender a ameaça.
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