Essa é uma guerra mais difícil de se cobrir jornalisticamente falando do que a de um ano atrás. Quando desembarquei em Israel, em outubro do ano passado, o país havia passado pelo maior atentado de sua história — 1,2 mil mortos e mais de 250 reféns levados para Gaza depois da incursão macabra do grupo terrorista Hamas no dia 7.
A resposta militar à Faixa de Gaza era gestada. Eu voltava ao Oriente Médio pela primeira vez desde a guerra de 2006, entre Israel e Hezbollah, conhecida como a Segunda Guerra do Líbano. Naquela, eu havia concentrado as atenções no norte de Israel e, depois, ingressado em Beirute e ido até o sul libanês em meio a bombas.
Em 2023, circulei pela primeira vez nos arredores da Faixa de Gaza, fiquei na linha de tiro dos foguetes do Hamas, em Sderot, e testemunhei o horror nos kibutzim invadidos pelos fanáticos.
Mas aquela guerra que começava, por incrível que pareça, era mais fácil de cobrir: a geografia era mais limitada, o Hamas havia atacado primeiro e, em seguida, se entocado nos túneis de Gaza com os cativos — e havia muito sofrimento a relatar.
Voltei a Israel na semana passada para cobrir a passagem de um ano daquele massacre — e, por tabela, o novo front no Norte. Cobrir a fronteira com o Líbano impõe desafios logísticos - a área montanhosa é imensa, os vilarejos estão fantasmas, fica-se muito perto do muro entre Israel e Líbano, avista-se as cidades do outro lado — e, obviamente, o Hezbollah também nos vê. Chegar a Kyriat Shmona, no chamado Dedo da Galileia, como chegamos na quinta-feira (3), exige planejamento logístico — não pode faltar combustível no caminho, sabe-se que, ao longo da estrada não há abrigos antiaéreos e, se as sirenes tocarem, o máximo que se poderá fazer é parar o carro, manter a calma, descer do veículo e deitar-se no chão até que elas parem.
Na linha de fronteira, você precisa se acostumar com os estrondos da artilharia - e apostar que elas são israelenses, do lado da fronteira onde você está. Porque, se for um foguete do Hezbollah, você ouvirá apenas um silvo longo zunir por cima de onde estiver e, com sorte, o artefato será explidodo no ar pelo sistema antiaéreo — ah, claro, precisa ainda torcer para os estilhaços não caírem por perto.
O primeiro problema - e esse é um dos fatores pelos quais essa é uma guerra mais difícil de se cobrir — é que o atual conflito revela fragilidades do poderoso Domo de Ferro israelense. Ele pega 99% dos foguetes do Hezbollah e do Hamas. Mas alguns caem — e ferem. O segundo problema é que o Hezbollah tem maior poder de fogo do que o Hamas — além de foguetes, lança mísseis. Sem falar de que essa guerra já não é sobre um território minúsculo como Gaza, envolve, além do Hezbollah, no Líbano, Estados nacionais como o Irã e a Síria, duas potências militares do Oriente Médio.
O Norte é tão complexo que um simples erro de cálculo pode deflagrar a tão temida guerra regional - ou, quem sabe, um conflito de proporções globais. O "Dedo da Galileia", onde estive, é o epicentro explosivo da região. De um lado, Israel, do outro Líbano, ali ao lado as Colinas de Golã, estratégicas para todos e disputadas por Israel e Síria. Sem dúvida, essa é uma guerra muito pior. E, tudo indica, vai ficar ainda mais grave.
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