Diretor do Centro Nacional de Preparação para Desastres na Columbia Climate School, da Universidade de Columbia, o americano Jeff Schlegelmilch é responsável por supervisionar as operações e o planejamento estratégico do órgão.
Em 2005, ele liderar esforços de preparação e resposta a emergências durante a crise provocada pelo furacão Katrina, que devastou New Orleans. Seu trabalho incluiu a coordenação de recursos e suporte para as comunidades afetadas, além de planejamento para ajudar a integrar os setores público e privado nas operações de resposta e fornecer orientação e suporte técnico para os líderes locais e estaduais durante a crise.
Schlegelmilch participa, na quinta-feira (15) do CEO Forum, encontro anual realizado pela Câmara Americana de Comércio no Rio Grande do Sul (Amcham RS) e que, este ano, debaterá a reconstrução do Estado. O evento será no Teatro do Bourbon Country, em Porto Alegre, entre 11h e 18h. Ingressos podem ser adquirodos no site sympla.com.br/evento/ceo-forum-20-anos-de-inspiracao-e-impacto/
À coluna, Schlegelmilch contou as lições aprendidas a partir da catástrofe do Katrina e compara os desastres nos EUA e no Rio Grande do Sul.
Que lições o senhor aprendeu em termos de resposta do governo a partir da tragédia do furacão Katrina, em New Orleans, em 2005?
Uma lição fundamental do Katrina é que os desastres são dinâmicos, com alguma previsibilidade, mas não seguem procedimentos. Houve muitos atrasos, enquanto se esperava pela avaliação das necessidades. E, quando a informação ficou disponível, já era tarde demais para ajudar muitas pessoas. Em outros casos, a resposta do governo foi restringida por regras que não permitiam aos intervenientes antecipar o que era necessário. Ao mesmo tempo, o setor privado realmente interveio, fornecendo recursos às famílias necessitadas, bem como trabalhando para reabrirem para que as pessoas tivessem empregos para os quais voltar. Muita coisa mudou depois do Katrina. A nível nacional, foi aprovada legislação para permitir mais flexibilidade na resposta governamental, e foi investido mais trabalho na gestão de grupos de voluntários e na inclusão do setor privado como parte da resposta.
Naquela época, o governo foi criticado pela demora. Se você tiver uma nova chance, faria algo diferente?
Seria muito diferente agora. Depois do Katrina, foi aprovada a Lei de Reforma da Gestão de Emergências Pós-Katrina, procurando corrigir muitas das questões da resposta. Os gestores de eEmergência também são treinados com uma abordagem mais comunitária, menos rígida e reconhece que todos são necessários para satisfazer as necessidades diante de uma resposta. Naquele momento, também houve muitas decisões questionáveis tomadas por autoridades eleitas e líderes de gestão de emergências. Enquanto tragédia, esse trauma permitiu que se evoluísse. Ainda haveria problemas se o Katrina ocorresse hoje, sem dúvida. Mas estou confiante de que seria melhor gerido, com resultados menos trágicos.
É possível comparar a tragédia no sul do Brasil com as consequências do Katrina em New Orleans?
Em termos de danos, acho que sim. Também parece haver algumas semelhanças na forma como o risco era conhecido, mas, ainda assim, pareceu ter pego muitos funcionários desprevenidos. Cada desastre como esse tem algumas semelhanças e algumas diferenças. Mas um tema comum é que os sinais de alerta existiam, mas foram ignorados ou não receberam prioridade suficiente. Uma recuperação bem sucedida exigirá toda a comunidade. O governo será uma parte importante disso, mas também o serão o setor privado, os grupos comunitários e os cidadãos comuns.
É preciso reconstruir tendo em mente as alterações climáticas. Assim, com as inundações, é necessário observar a elevação das habitações, os sistemas de drenagem e outros sistemas de gestão de inundações, e como se prevê que esses riscos mudem.
Quais são os principais aspectos a serem levados em conta para reconstruir uma região atingida por um desastre natural?
Algumas das principais áreas que consideramos necessárias na recuperação de desastres centram-se na recuperação econômica e habitacional. A reconstrução do parque habitacional leva anos, às vezes até décadas. É nesse contexto que as pessoas precisam decidir se devem ficar ou partir. E ter empregos é fundamental para fazer circular os recursos na comunidade. Mas. para fazer isso, as pessoas precisam de casas, escolas, cuidados de saúde e de todas as outras coisas que fazem a sociedade funcionar. Também é importante observar quem está obtendo melhores resultados na recuperação e quem está com dificuldades em obter acesso aos recursos. A recuperação de desastres é sempre injusta, sendo os mais vulneráveis são os que têm mais dificuldade em recuperar.
Como reconstruir melhor, de forma mais resistente às alterações climáticas?
É preciso reconstruir tendo em mente as alterações climáticas. Assim, com as inundações, é necessário observar a elevação das habitações, os sistemas de drenagem e outros sistemas de gestão de inundações, e como se prevê que esses riscos mudem. Caso contrário, você continuará reconstruindo o mesmo prédio sempre que ele inundar. Isso é muito mais caro do que gastar um pouco mais de dinheiro para evitar que seja destruído na próxima enchente. O mesmo se aplica a outros perigos climáticos. Se a sua área é propensa a incêndios florestais, então procure materiais resistentes ao fogo, manejo da vegetação, rotas de evacuação, etc.
O que é crítico em termos de projetos e políticas para lidar com as alterações climáticas e eventos extremos?
Precisamos incentivar a construção de mais resiliência tendo em mente as alterações climáticas. Construir para um crescimento rápido sem ter em conta as alterações climáticas cria novas vulnerabilidades e será muito mais dispendioso reconstruir do que evitar a destruição. Essas coisas podem ser impulsionadas pelo avanço de códigos de construção mais robustos, pela alocação de mais dinheiro para a construção de comunidades e infraestruturas resilientes e, acima de tudo, pelo reconhecimento de que a resiliência não é um custo extra, é um investimento no futuro.
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