Uma interpretação apressada do relatório dos holandeses sobre o sistema de proteção a cheias em Porto Alegre pode dar a impressão do uso de sacos de areia sobre a eventual mureta proposta para ser construída entre o Guaíba e os armazéns do Cais Mauá como algo enjambrado. Não é. Os chamados "bags" são utilizados como reforço temporário - e com eficiência - em vários países do mundo, inclusive na Holanda e na Alemanha.
A ideia apresentada pela equipe de pesquisadores que apresentou o documento na segunda-feira (19) seria a construção de um dique, ou seja, um muro de um metro de altura, com 2,5 metros de largura, ao longo de toda a extensão do cais, que tem 1,5 quilômetro. Se a cheia ultrapassar um metro, os holandeses propõem empilhar sacos de areia em cima de todo o comprimento do novo dique, atingindo uma altura total de três metros — a mesma do Muro da Mauá.
O colega Paulo Germano ouviu técnicos de Porto Alegre que calcularam que seriam necessários 7,5 mil metros cúbicos de areia para preencher todo aquele quilômetro e meio. Ou seja, 937,5 caminhões.
Embora possa parecer estranha a ideia de empilhar às pressas sacos de areia sobre a mureta, essa iniciativa foi empreendida, com sucesso, durante uma enchente na Tailândia em 2013. Lá, foram colocados bags ao longo de 10 quilômetros de extensão.
No caso da Holanda, onde prevenção é palavra de ordem, a areia não surge do nada nem de repente. As autoridades já têm, antecipadamente, contratos com empresas, sabem de onde a areia será retirada e como chegará aos locais vulneráveis com rapidez. Por isso, é fundamental, em Porto Alegre, que se melhore a qualidade da medição do nível do Guaíba e dos afluentes - para que todo esse processo, eventualmente, seja rápido.
A ideia de não se fazer um muro mais alto - e complementá-lo com bags - embute a intenção de evitar cobrir a vista para o lago e afastar ainda mais o Guaíba da cidade. Aliás, na Holanda, os bags também são usados para evitar que a população fique apartada das águas.
Em tempo
Causou surpresa entre os holandeses que o relatório tenha sido visto como de conclusões óbvias - problemas nos diques, nas comportas e nas casas de bombas. Até porque, quando a equipe fez a pesquisa de campo era junho, um mês depois da enchente, quando as causas do alagamento histórico ainda não estavam tão precisas.
Relatório já conhecido
O relatório dos holandeses já havia sido entregue às autoridades há cerca de um mês. A apresentação de segunda-feira (19) foi apenas um ato formal. Por isso, muitas das sugestões feitas pela equipe de especialistas já circulavam na boca de muitos gestores municipais.
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