É compreensível a saída de Joe Biden, depois de três semanas de aflição em praça pública, mas, com a desistência, o democrata praticamente entrega, de bandeja, a Casa Branca para Donald Trump.
Veja alguns motivos.
1) Assim como no Brasil, a política americana é fortemente marcada pelo personalismo. As pessoas votam em nomes, menos do que em ideias. Biden é o principal líder do Partido Democrata. Todos abaixo dele são menores. Além disso, a reeleição de um presidente é vista como algo habitual. Sua saída desmobiliza parte do eleitorado.
2) Falta menos de um mês para a convenção democrata - que será entre 19 e 22 de agosto, em Chicago. É pouco tempo. A saída provoca um terremoto político nas entranhas do partido, que pode, agora, realizar um debate aberto (para descobrir um novo nome) ou chegar a um consenso em torno do apoio a um candidato, no caso Kamala Harris ou outro, na convenção.
3) Biden é o vencedor das prévias democratas - conquistou 3.933 dos cerca de 4,5 mil delegados. Eles deveriam, em tese, apoiá-lo na convenção do partido. Sua saída abre um racha interno, com vários nomes voltando à cena como prováveis competidores: além de Kamala Harris, o mais provável é Gavin Newson, governador da Califórnia. Correm por fora Gretchen Whitmer, governadora do Michigan, e J. B. Pritzker, de Illinois, ou o deputado Hakeem Jeffries, e o secretário dos Transportes, Pete Buttigieg.
4) Mesmo demonstrando problemas de cognição, decorrentes da idade, Biden seguia firme nas pesquisas contra Trump. Depois do fracasso do debate do dia 27, não caiu tanto. A diferença para Trump estava dentro de margem de erro. Construir um novo nome, do ponto de vista midiático e político, não é simples.
5) Mudar o candidato a 107 dias da disputa é, por si só, o fantasma de qualquer estrategista. Passa pelo convencimento dos apoiadores e, principalmente, dos eleitores - ainda mais em uma eleição onde o voto não é obrigatório. No caso americano, de eleição indireta, conta muito a disposição do eleitorado de ir votar. Agora é aqueles que decidem por Trump, que é um eleitor praticamente convertido, e aqueles que julgam uma chance de desviá-lo da vitória. Os democratas precisam de um nome que tire o eleitor do marasmo.