A tragédia das queimadas sem precedentes no Pantanal ilustra com precisão as contradições do governo Lula em relação ao ambiente. É vergonhoso, para um país que busca se mostrar ao mundo como campeão do tema e que se propõe a ser líder da luta contra o aquecimento global, exibir ao mundo as cenas do bioma em chamas.
Não é a primeira vez que o discurso não casa com a prática nesse um ano e meio de Lula 3: criou-se um Ministério do Meio Ambiente incensado por ambientalistas, com Marina Silva à frente, para logo ali à frente desidratar seu poder. Prometeu-se apostar em energias renováveis, enquanto, adiante, dava-se sinal verde para a prospecção de petróleo na Margem Equatorial da foz do Amazonas. Defendia-se o fim dos combustíveis fósseis, na COP de Dubai, dias depois de se ingressar no grupo ampliado da Organização dos Países Exportadores de Petróleo, a chamada Opep+.
Menos conhecido internacionalmente do que a Amazônia, o Pantanal não ganha a mesma proporção de escândalo global que a floresta em chamas, em 2021, provocou. Mas o fogo na maior zona úmida tropical do planeta é tão ou mais grave do que na mata porque não é fato isolado: o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) relata aumento de mais de 1.000% nas queimadas em 2024 no Pantanal em relação ao mesmo período de 2023. Já são mais de 3.200 focos na região em 2024, um aumento de 33% em relação ao mesmo período de 2020, quando foram registradas as maiores queimadas da história no bioma.
O mais preocupante é que o Brasil, segundo declaração do presidente do Ibama, Rodrigo Agostino, não tem estrutura contra o fogo à altura da crise climática. Principalmente porque sabe-se que o fogo é utilizado para renovação de pastagem, entre outros manejos.
O fato de não se ter um governo negacionista para as questões climáticas, como o anterior, não dispensa ao atual inquilino do Planalto o benefício de se omitir — ou de reagir tardiamente — diante da crise.
A enchente no Rio Grande do Sul comprovou a necessidade de municípios, Estados e União redesenharem as estratégias de enfrentamento e prevenção ao avanço das águas. No caso das queimadas, a carência de políticas públicas para lidar com o fogo é tão ou mais grave. Só depois de fazer o tema de casa, com alguma coerência na bagagem, é que o governo Lula pode se lançar ao mundo para dizer às demais nações o que fazer. Antes disso, nosso telhado continuará sendo de vidro.