Vinte e quatro horas depois de inaugurar o panteão infame dos ex-presidentes dos Estados Unidos condenados criminalmente, Donald Trump comportou-se exatamente como o esperado: turrão, esperneou contra a Justiça americana distorcendo fatos e se colocando como vítima do que chama de caça às bruxas. Entronado em seu castelo privado, a dourada Trump Tower, na 5ª Avenida, em Nova York, transformou o discurso de 33 minutos em que bradou contra tudo e todos em um minicomício. Apelou até para o medo.
— Se podem fazer isso comigo, podem fazer isso com qualquer um — disse diante de jornalistas e de alguns poucos funcionários de seu império.
Ainda que muitas dúvidas pairem sobre o futuro de Trump, uma coisa é certa: o ex-presidente está, politicamente, mais vivo do que nunca. Ele se alimenta da polêmica, do show business, de cada flash ou câmera apontada para si antes e depois de suas idas ao tribunal como réu. Aliás, as imagens aéreas, feitas de helicóptero pelas emissoras de TV americanas, que mostravam o trajeto de sua comitiva após a condenação até seu castelo em Manhattan, lembravam, esteticamente, a fuga do ex-jogador de futebol americano O.J. Simpson em 1994, cuja perseguição entrou para a história das transmissões ao vivo.
Quanto maior número de ações na Justiça, maior sua narrativa de perseguido político - e, consequentemente, mais seus apoiadores o reverenciam. Trump segue como favorito, diante de um governo sonolento do democrata Joe Biden. Em 2016, o republicano elegeu-se como um outsider, alguém de fora do que chamava "pântano de Washington". Em 2024, poderá se eleger de novo, mas, desta vez, como alguém de fora... da lei.