A intenção, tenho certeza, foi das melhores: alertar a população sobre o perigo. Mas acabou que o efeito foi de medo e consternação.
Às 18h55min de sábado (4), a Defesa Civil do Estado publicou em suas redes sociais um mapa acompanhado de um texto que destacava "inundação severa" e ordenava que a população evacuasse "imediatamente áreas de risco". Como uma substância tóxica percorrendo instantaneamente o sistema sanguíneo de um corpo, a imagem que mostrava boa parte de Porto Alegre e Região Metropolitana sob risco de inundação iminente ganhou o terreno pantanoso das redes sociais. Imediatamente, pais, filhos, irmãos, amigos, colegas de trabalho correram o olho pelo card oficial para identificar, no mapa, a localização das casas de seus familiares e conhecidos. Telefonemas foram dados às pressas, apelos para que saíssem das áreas ali indicadas. E a imagem cada vez mais era compartilhada.
Um olhar cuidadoso e distanciado permitia perceber que o mapa ignorava os diferentes relevos da capital gaúcha - colocava, por exemplo, na mesma área regiões próximas do Guaíba, como a Avenida Mauá, e outras de maior elevação, como a Praça da Matriz. Não fazia diferenciação. Ora, para a água subir a Rua da Ladeira e chegar, por exemplo, ao Palácio Piratini, o Guaíba precisaria atingir uns 30 metros. O mapa ignorava a topografia de uma cidade composta por morros que, a essa altura, ainda deixam a salvo a maior parte da Capital.
No entanto, para o olhar angustiado de uma comunidade traumatizada a imagem provocou medo. Foi necessária - e, na verdade, um bálsamo para os gaúchos - a entrevista, perto das 23h, do chefe da Casa Militar do Estado, coronel Luciano Boeira, que veio a público na Rádio Gaúcha esclarecer: a mancha vermelha foi elaborada como um aviso para que as pessoas tivessem uma identificação visual. Ele ponderou, contudo, que o mapa não esclarecia exatamente quais áreas poderiam ser afetadas pelas águas e deixou claro que não se tratava de evacuação de Porto Alegre.
Por melhor que tenha sido a intenção de publicar a representação gráfica, a imprecisão das informações e do fatídico mapa tumultuou a noite de sábado de uma população angustiada pelos apelos de milhares de pessoas aguardavam socorro nos telhados de suas residências em diferentes quadrantes.