Coube a uma diplomata gaúcha organizar alguns dos trâmites mais dolorosos envolvendo a morte do ídolo Ayrton Senna, há exatos 30 anos.
Logo após aquele longo e doloroso domingo de 1º de maio de 1994, Leda Lúcia Camargo foi encarregada de negociar e marcar, por telefone e confidencialmente, com as autoridades italianas e os médicos-legistas, a autópsia do herói brasileiro no Hospital Maggiore, de Bolonha.
Ao mesmo tempo, junto com o cônsul-geral do Brasil em Milão, embaixador José Botafogo, a embaixada tratava do traslado do corpo, atendendo ao desejo da família de embarque em voo da Varig, que saísse de Paris.
Leda, hoje aposentada e morando em Porto Alegre, era, à época, chefe do setor Político e de Imprensa da Embaixada do Brasil em Roma. Ela conta em seu livro "Os diplomatas e suas histórias": "fizemos necessárias gestões e providências para solicitar à Força Aérea Italiana (FAI) um avião especial que partisse de Bolonha para levar o esquife do três vezes campeão mundial de F1 até Paris. É muito delicado e até hoje muito triste e emocionante relembrar".
Para a entrada do ataúde com o corpo de Senna no avião da FAI, foi necessário retirar a moldura da porta da aeronave. E, para que o caixão do piloto não viajasse no porão da aeronave da Varig como carga, de Paris para São Paulo, as cadeiras de passageiros da parte posterior do avião foram retiradas. O voo pousou na capital paulista, em um Brasil comovido, em 4 de maio.
"Muitas vezes falei com jornalistas tendo que segurar o pranto. Nos dias seguintes, recebemos na embaixada dezenas de cartas de pêsames, que separei, muitas vezes chorando, para enviar à família de Senna", lembra Leda no livro.
"Engasgávamos dentro da embaixada constantemente, durante os quatro dias que durou todo o processo. Foi grande desgosto ter que trabalhar com aquela dor que sabia ser a de cada brasileiro e a de todo nosso país", acrescenta.