No momento em que escrevo este texto, às 11h desta quarta-feira (1º), quase 20 trechos de rodovias federais e 51 pontos das estaduais estão totalmente bloqueados devido aos transtornos da chuvarada no Estado. Isso significa que o Rio Grande do Sul está cortado por trechos d'água que subdividem o território gaúcho em fragmentos de terra sem conexões entre si. Os motivos são quedas de barreira, rompimento total do asfalto, árvores na pista ou as vias simplesmente transformadas em rios.
A BR-386, conhecida como Rodovia da Produção, está com 93 quilômetros, preventivamente, interrompidos entre Soledade e Lajeado. Há pouco, um ouvinte buscava orientação, na Rádio Gaúcha, sobre como transportar oxigênio de caminhão de Guaíba para um hospital no interior do Estado.
Ora, em um Estado (e um país) que, no passado, escolheu o transporte rodoviário como dínamo de desenvolvimento, a paralisação de rodovias significa uma catástrofe econômica. Sem estradas, o Estado para: hospitais ficam sem oxigênio e medicamentos; ambulâncias não chegam às emergências; combustíveis não alcançam postos; alimentos não vão às prateleiras de supermercados; safras não são escoadas.
Se tormentas anteriores expuseram as fragilidades do sistema de distribuição de energia elétrica e as vulnerabilidades de encostas e áreas urbanas ribeirinhas, as águas de abril e maio revelaram o quanto as rodovias precisam de um olhar especial do poder público. Além das perdas humanas, que, neste momento, são mais o grave - e todo o esforço deve estar focado em salvar pessoas em situações de risco -, urge autoridades elegerem como prioridade o tema das mudanças climáticas. O prazo de validade das infraestruturas que garantiram o desenvolvimento do RS até aqui venceu.