Um olhar sobre como países reconstruíram regiões devastadas por terremotos, furacões, tsunamis e inundações sugere que, reerguer-se do desastre, exige bilhões em recursos financeiros, parcerias público-privadas, disciplina, resiliência e muito tempo. Grandes escritórios de engenharia privados foram contratados, por exemplo, para a construção de estruturas para conter o impacto de novos furacões em Nova York, após a passagem de Sandy. No Japão, que enfrentou o tsunami devastador em 2011, foi criado um imposto específico para a reconstrução. Em New Orleans, pós-furacão Katrina, o trabalho principal coube às forças armadas.
Na terça-feira (7), empresários gaúchos sugeriram ao governador Eduardo Leite, durante reunião no Piratini, a busca de um especialista - pessoa ou empresa - em catástrofes para organizar a reconstrução da infraestrutura do Estado. Ou seja, uma autoridade de gestão. Ficou claro que, diante de uma nova realidade climática, são necessárias soluções criativas - não se pode fazer "mais do mesmo". Os casos de New Orleans, da região de Fukushima e de Nova York foram citados como exemplos.
Furacão Sandy em Nova York
Quando - 22 de outubro de 2012
O quê - O furacão Sandy atingiu Jamaica, Cuba, Bahamas, Haiti, República Dominicana e alguns Estados da costa leste dos Estados Unidos, entre eles Nova York e New Jersey. Os impactos causados pelo Sandy incluíram a inundação do sistema de metrô de Nova York, de muitas comunidades e dos túneis rodoviários que entram em Manhattan. A Bolsa de Nova York fechou por dois dias consecutivos. Inúmeras casas e empresas foram destruídas.
Perdas humanas - 233 pessoas mortas (mais de cem só nos EUA e 43 em Nova York)
Como foi a reconstrução - Uma das primeiras iniciativas de destaque para criar uma cidade de Nova York resiliente e sustentável foi o Rebuild by Design, lançado pelo Departamento de Habitação e Desenvolvimento Urbano dos EUA em 2012 com um concurso internacional.
Seis vencedores foram escolhidos para receber financiamento do fundo de recuperação de desastres de US$ 4 bilhões do então presidente Barack Obama para desenvolverem as suas ideias. Dos projetos vencedores originais focados nos esforços de recuperação e resiliência de Nova York, o sistema de proteção contra tempestades da empresa de arquitetura BIG causou o maior impacto. Originalmente conhecido como The BIG U, a contribuição tornou-se uma solução de mitigação de inundações para Manhattan que se estende da West 57th Street até a East 42nd Street e até Battery.
Mais recentemente, em 2020, o Projeto de Resiliência Costeira do East Side (ESCR) envolveu a reconstrução do East River Park. Outro, o Projeto de Resiliência Costeira de Lower Manhattan (LMCR), inclui o distrito financeiro de Manhattan e o South Street Seaport, após um estudo que concluiu que a única medida viável para essas áreas seria estender a linha costeira cerca de dois quarteirões até o East River, adicionando um novo pedaço de terra igual ou superior a seis metros do nível atual do mar. Com um orçamento de US$ 107 milhões, estão sendo construídos primeiros quebra-mares.
Como a iniciativa privada participou - Além da BIG, uma das maiores empresas de engenharia do mundo, também tem papel fundamental a SCAPE/Landscape Architecture, que busca criar uma cultura baseada na água e educar as gerações futuras enquanto reconstrói a ecologia local com terrenos rochosos e inclinados.
Hoje - Muito já foi feito, mas vários projetos ainda estão no papel. A construção do muro em Lower Manhattan para reduzir o risco de inundações está em andamento. Assim como em New Orleans, o corpo de engenheiros das forças armadas foram chamados. Um plano de US$ 52 bilhões para erguer um sistema de comportas e diques marítimos foi apresentado.
Furacão e inundação de New Orleans
Quando - 23 de agosto de 2005
O quê - Com ventos de 280 km/h, o furacão Katrina varreu o sul dos Estados Unidos, atingindo os Estados de Louisiana, Mississipi e Alabama. Os diques que protegiam a cidade de New Orleans se romperam. Cerca de 80% da cidade foi inundada.
Perdas humanas - 1,8 mil mortes. mais de 1 milhão de pessoas foram evacuadas.
Como foi a reconstrução - Na reconstrução teve grande protagonismo o Corpo de Engenheiros das Forças Armadas, que reparou as 55 rupturas dos diques, incluindo alguma das regiões mais conhecidas, como a 17th Street e o distrito industrial imediatamente após a tragédia.
Em 2006, foi lançado o projeto batizado de “Muralha”, concluído em 2015 a um custo de US$ 14,5 bilhões. Outro projeto foi a recuperação dos pântanos do Golfo do México, financiado pelo governo de Louisiana.
Em 2013, entrou em ação o Greater New Orleans Urban Water Plan (Plano de Água Urbana da Grande New Orleans), que teve participação de empresas sem fins lucrativos, líderes da sociedade civil e especialistas em gestão de águas pluviais. O projeto procurou repensar a gestão de águas pluviais e a infraestrutura de drenagem da cidade para garantir a longevidade da cidade em meio a preocupações com subsidência e mudanças climáticas.
Um dos princípios foi "viver com água" para descrever a ênfase em armazenar e reter água dentro dos limites da cidade, em vez de bombear água para os principais cursos de água, como o rio Mississippi e o lago Pontchartrain. O projeto vê a água como um ativo e baseia-se no modelo holandês para o controlo de cheias nos Países Baixos. O plano baseia-se em práticas de infraestrutura verde, como biovalas, vias verdes, vias azuis, jardins de chuva e pavimentos permeáveis, para capturar e armazenar o excesso de águas pluviais.
Como a iniciativa privada participou - Entre outras empresas Waggonner & Ball Architects, uma empresa privada com sede em New Orleans, coordenou o projeto Greater New Orleans Urban Water Plan com o apoio da Greater New Orleans Inc.
Hoje - Hoje, New Orleans é exemplo de prevenção a tragédia ambientais. A economia da cidade prospera. A taxa de ocupação hoteleira é maior do que antes da tempestade, milhares de empregos foram criados e o ritmo de abertura de novas empresas está acima da média nacional. A terra do jazz e do Mardi Gras, o Carnaval, reviveu.
Terremoto e tsunami no Japão
Quando - 11 de março de 2011
O quê - Terremoto de 9 graus na Escala Richter fundo do Oceano Pacífico gerou um tsunami que destruiu cidades da região de Tohoku e devastou a usina nuclear de Fukushima. Foi a maior catástrofe enfrentada pelo Japão desde as bombas atômicas sobre Hiroshima e Nagasaki, em 1945.
Perdas humanas - Mais de 18 mil pessoas mortas e 160 mil deslocadas.
Como foi a reconstrução - Logo após a tragédia, o parlamento aprovou leis para estabelecer “cidades seguras contra tsunamis”. Isso envolveu pesquisas e educação, formação em evacuação e medidas para prevenir ou mitigar o efeito desses fenômenos a longo prazo. Foi criado um painel consultivo de especialistas, o Reconstruction Design Council, que apresentou um plano para reconstruir a infraestrutura ao longo da costa de Tohoku, com base em novas simulações e estudos de risco de tsunami. Em 2011, o governo conseguiu aprovar no parlamento três orçamentos suplementares relacionados com catástrofes. O terceiro e maior forneceu cerca de US$ 155 bilhões de dólares para a reconstrução em áreas devastadas. Em 2012, o governo criou uma Agência de Reconstrução a nível ministerial para coordenar os esforços de reconstrução na área de Tohoku.
Uma das premissas foi reconstruir e viabilizar todas as estradas e meios o mais rápido possível para que a economia daquela região retomasse suas atividades produtivas. A agricultura, a pesca e o turismo abriram caminho.
O governo japonês estabeleceu, de 2013 a 2037, um montante adicional de 2,1% no imposto de renda como um imposto conjunto para todos os cidadãos e empresas. Com isso, foram financiadas as obras de reconstrução e reabilitação das zonas afetadas. A maior percentagem do orçamento obtido pela "taxa solidária" foi destinada a infraestruturas, financiamento à construção de moradias e créditos a pequenos negócios.
Como a iniciativa privada participou - Teve papel fundamental uma antiga empresa, a“Fukko Kensetu Gijutsu Kyokai (Associação de Engenharia de Reconstrução), criada com o objetivo de reconstruir o Japão após a Segunda Guerra Mundial. O governo e os órgãos autónomos solicitaram à Associação Japonesa de Consultores de Engenharia Civil (JCCA) que tomasse medidas e, como membro da JCCA, participassem da atividade.
Hoje - O desmantelamento do reator danificado e a descontaminação dos terrenos próximos a Fukushima ainda ocorrem. Os índices de radioatividade já estão em limites normais, o que fez o perímetro de segurança para a área de habitação tenha sido reduzido para 337 quilômetros quadrados. Grande parte da região retomou as atividades econômicas. A agricultura e a pesca aumentam gradativamente a produção.