Qual guerra o governo de Benjamin Netanyahu quer ganhar? Pergunto isso porque a guerra da opinião pública internacional, Israel já perdeu.
A cada cena de criança palestina mutilada, a cada hospital de Gaza atingido por bombas e a cada mãe e pai esfomeados que buscam comida para os filhos nos raros caminhões que cruzam o território, Israel é derrotada um pouco mais nos corações e mentes da comunidade global.
É impressionante como a cabeça doentia do líder de um governo cambaleante até o 7 de outubro conseguiu transformar Israel de vítima do maior ataque terrorista de sua História em algoz. Não existe guerra limpa. Mas o número de mortos civis diz muito sobre as decisões do comandante-em-chefe de um dos exércitos mais modernos do mundo.
O que seria a vitória, a essa altura, no conflito que, no próximo dia 7 de março, completa cinco meses? A derrota do Hamas?
No terreno, isso já ocorreu. O grupo terrorista não tem mais capacidade militar em Gaza. Arrisco dizer que Israel domina aquela faixa por terra, água e ar.
Isso não significa, no entanto, que a organização extremista será eliminada, o que só poderia começar a ocorrer quando e se seus líderes fossem eliminados. Mas, enquanto a população de Gaza é refém do Hamas por um lado, e prisioneira de Israel por outro, as cabeças da organização terrorista gozam de segurança e tranquilidade, sombra e água fresca, nos emirados do Golfo Pérsico, entre eles o Catar.
Mesmo se eliminassem seus líderes, Israel, ainda assim, pode não extirpar o Hamas do planeta Terra. Porque o terrorismo é uma ideia. Os Estados Unidos, em 20 anos de conflito no Afeganistão, mataram Osama bin Laden, deram um golpe na Al-Qaeda, mas não a derrotaram por completo. No caso do Talibã, regime que protegeu a rede terrorista responsável pelo 11 de setembro de 2001 em Nova York e Washington, não apenas sobreviveu como voltou ao poder em Cabul. No Iraque, ato número 2 da guerra de George W. Bush contra o terror, os americanos puseram fim à ditadura de Saddam Hussein, mas o caos do dia seguinte pariu o Estado Islâmico, grupo ainda mais sanguinário do que a Al-Qaeda.
No caso do conflito entre Israel e Hamas, o incidente durante a distribuição de comida e remédios na quinta-feira (29) ainda está mal explicado. Mas, sem dúvida, pela gravidade das denúncias, é um ponto de inflexão no horror diário da disputa. Ninguém pode ficar indiferente às cenas.
Talvez menos importante do que saber quem foi mais responsável pelo massacre seja exigir que a guerra pare agora. Pelo bem de Israel. Pelo bem dos palestinos. Pelo que resta de humanidade.