Coube a um gaúcho de Júlio de Castilhos, no Planalto Médio do Rio Grande do Sul, apresentar a Lula o Pampa como um bioma.
Você deve lembrar: no sábado passado (1º), o presidente disse na COP28, em Dubai, que "descobriu até que o Pampa é um bioma". Pois coube a Rodrigo Dutra, 45 anos, zootecnista, analista ambiental do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) há 20 anos, avisá-lo.
Começou assim: antes de embarcar para Dubai, o presidente pediu à ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, que convocasse os representantes dos seis biomas brasileiros para uma conversa. Pelo bioma gaúcho, o representante seria da Coalizão pelo Pampa, conjunto de 22 organizações da sociedade civil que se uniram para a defesa do território.
Rodrigo estava em Brasília e foi destacado para a reunião no Planalto. Durante o encontro, ele explicou sobre a importância do bioma, que é basicamente campestre, apontou que o Pampa tem uma biodiversidade tão rica quanto as florestas e alertou que a área está sendo substituída pela agricultura, com destruição dos campos para plantio de soja e eucalipto.
- Estima-se em mais de 100 mil hectares por ano, isso é um ritmo maior de supressão do que a Amazônia e o Cerrado. É o bioma que está mais perdendo vegetação nativa do Brasil hoje. Ao mesmo tempo, é o que tem menos unidades de conservação - destacou.
O alerta chamou a atenção de Lula e Marina.
Ao final da reunião, o presidente admitiu não saber que o Pampa era um bioma. Marina, segundo Rodrigo, afirmou tê-lo avisado várias vezes.
- Mas que ele esqueceu - teria dito a ministra.
Rodrigo, na oportunidade que teve, frente a frente com o presidente, salientou a importância de apoiar as atividades sustentáveis no Pampa, como a pecuária.
- Frisei ao presidente que o Pampa sequestra carbono. Não é só floresta: nossos campos naturais sequestram carbono, mas o depositam nas suas raízes e no solo. Nossa floresta de carbono está embaixo do solo. À medida em que vai se perdendo o pampa, vamos emitindo CO2 para a atmosfera - advertiu. - Vivemos um paradoxo, o Pampa, onde a pecuária é sustentável, é destruído para plantio de árvores (eucalipto), enquanto, na Amazônia, se destrói a floresta para colocar bois.
A reunião com Lula foi em 22 de novembro.
Sobre a polêmica levantada em razão da fala do presidente, Rodrigo afirma:
- Não achei ruim ele dizer não sabia, pois o Pampa é pouco conhecido e esquecido pelos brasileiros - e até pelos gaúchos. Achei importante o presidente citar o bioma na COP e que isso se transforme em futuras ações pela sua proteção e uso sustentável.