Jornalistas que desembarcam em Dubai para cobrir a conferência mundial do clima, a COP28, estão com os dois pés atrás em relação ao risco de monitoramento de suas transmissões.
Há várias semanas, quem chega ao aeroporto recebe um chip de celular 5G com direito a 1GB válido por 24 horas. O "mimo", com o slogan "Bem-vindos aos Emirados da alegria", é entregue na imigração pelo agente da alfândega. É parte dos cuidados dos jornalistas internacionais evitar usá-lo.
Os Emirados Árabes Unidos são conhecidos por vigiar a imprensa. Além disso, emissoras de comunicação que enviaram repórteres ao evento precisaram passar uma lista com seus equipamentos à organização da COP, que a repassou ao governo.
Assim como no ano passado, durante a COP27, no Egito, especialistas em segurança estão orientando os participantes da COP28, em Dubai, a não baixarem o aplicativo oficial da conferência por "sérias evidências de que ele pode estar sendo usado como arma cibernética". Isso significa suspeitas de que o app poderia ser utilizado pelo governo para captar mensagens dos aparelhos celulares nos quais for instalado.
Risco de repressão
Assim como na COP27, em Sharm el-Sheikh (Egito), no ano passado, paira sobre a conferência deste ano em Dubai o risco de repressão aos protestos, agora, por parte do governo dos Emirados. É parte da dinâmica das COPs as manifestações, puxadas principalmente por grupos ambientalistas.
"Soft power"
Ao mesmo tempo em que são conhecidos pela censura à imprensa e pelo controle social rígido (ainda que mais liberal nos costumes do que a Arábia Saudita e o Irã), os Emirados apostam na realização de grandes eventos para projetar sua imagem internacional. Em 2020, ocorreu a Expo Dubai, o maior evento desde o início da pandemia de covid-19. A partir de quinta-feira (30), mais de 160 líderes mundiais estarão em Dubai para a COP28, entre eles o papa Francisco e o rei Charles III. No ano que vem, os Emirados sediarão a conferência ministerial da Organização Mundial do Comércio (OMC), desta vez, em Abu Dhabi. Enquanto o governo concorre com Singapura para a instalação de empresas globais, as suas companhias aéreas principais, Emirates e Etihad, fazem o papel de embaixadoras da nação árabe.