— Tel Aviv está ok? — pergunto ao recepcionista ao observar a orla da capital econômica de Israel e pressupondo maior tranquilidade do que em regiões do sul do país.
— Quieta, sim. Ok, não — ele responde.
Compreendo o tom irônico. Talvez leve tempo para ficar tudo ok. O pior é esse silêncio na badalada cidade de 435 mil habitantes. No início da tarde desta quarta-feira (11), a normalmente lotada orla servia de passeio para poucos pedestres que foram correr sob o pôr do sol no Mediterrâneo. Nas ruas, também eram raros os estabelecimentos comerciais abertos. Só tinham permissão para funcionar as casas que contivessem abrigos antiaéreos no ou "quartos de pânico". A regulação impediu muitos mercadinhos, padarias e outros comércios pequenos de abrir.
Em Tel Aviv, quando as sirenes antiaéreas soam, cada um tem um minuto para correr para o abrigo. É tempo suficiente se você está vestido no quarto ou caminhando na calçada a poucos metros dos albergues públicos. Situação bem diferente da registrada ao sul de Israel, nas comunidades atingidas pelos terroristas do Hamas, onde deve-se atingir o destino em no máximo 15 segundos.
No hotel onde GZH montou sua base, próximo à antiga embaixada americana (a representação diplomática foi transferida para Jerusalém no governo Donald Trump), o bunker fica na área central de cada andar — todos têm uma interconexão por escada. Úmida e sem ventilação, a sala superprotegida — que em tese é capaz de resistir a um bombardeio — é pouco confortável. Parece mais um depósito do setor de limpeza do hotel. Ali, há vários colchões enfileirados compartilhando o espaço de 10 metros quadrados com materiais de limpeza, sacos com rolos de papel higiênico e alguns travesseiros.
Desde que GZH chegou a Israel, nesta quarta-feira, as sirenes antiaéreas não soaram em Tel Aviv. Mas foi possível escutar três estrondos vindos do Sul, semelhantes a disparos: todos entre 15h37min e 17h. A primeira reação é tentar decifrar se são mesmo explosões ou se é algum barulho normal das ruas. Como Tel Aviv está em silêncio, é difícil se enganar. O estampido é seco. Na sequência, escuta-se o latir de cães, tão incomodados quanto os humanos.
Como as sirenes não dispararam no período em que estou aqui, deduzo que ou o barulho tenha sido fruto de uma ataque israelense à Gaza, localizada a 70 quilômetros de Tel Aviv, ou seja resultado da interceptação de um foguete do Hamas pelo sistema antimíssil israelense, o chamado Domo de Ferro.
A verdade é que é difícil dormir. Muitos deitam vestidos para sair às pressas, se necessário. Tel Aviv é uma cidade de receios: dos sons, das próprias pessoas e do futuro.
Caminho
GZH cruzou a fronteira Israel-Jordânia, sobre o Rio Jordão, por volta das 11h desta quarta-feira (11). Esse posto de passagem fica no nordeste de Israel, perto da fronteira com a Síria. De carro de Amã até a passagem Sheikh Hussein, são quase três horas por estradas que serpenteiam montanhas.
Ao chegar próximo ao posto, há centenas de famílias israelenses e estrangeiras à espera de táxis de uma concessionária que faz só o serviço de deslocar quem chega ao posto até a fronteira propriamente dita. Os veículos saem abarrotados de pessoas e malas em direção ao terminal de emigração jordaniana.
Depois, muda-se de veículo: quem já teve o registro de saída carimbado, embarca em outro ônibus, até a imigração israelense. Os passaportes são conferidos e divididos de acordo com o propósito da viagem. Caio na malha fina.
O microfone da Rádio Gaúcha, que carrego na mochila para as entradas ao vivo, é o grande vilão nos aparelhos de raio X. Fui parado em Porto Alegre, São Paulo, Istambul, Amã e, agora, na fronteira de Israel por causa do objeto. Feitas as conferências, os questionamentos — "Você saiba que Israel está em guerra?" — e as recomendações — "Conte a verdade" —, somos liberados.
No trajeto até Tel Aviv, há viaturas policiais além do normal. Blindados das Forças de Defesa de Israel estão no acostamento. Não é incomum voluntários pararem seus carros à frente das colunas de tanques para distribuir chocolates e outros mimos a quem está se preparando para o combate. Em tempos de conexão total, também entregam carregadores portáteis como doação aos soldados.