Separada de Israel por uma fronteira de 268 quilômetros de extensão, em parte demarcada pelo histórico Rio Jordão, a Jordânia é testemunha das contradições que a guerra entre Israel e Hamas impõe aos vizinhos. Em 1994, foi o segundo país árabe a assinar a paz com Israel (depois do Egito). O tratado de Wadi Araba pôs fim a mais de 40 anos de estado de guerra. Ao mesmo tempo, a Jordânia é o país da região com maior número de refugiados palestinos, cerca de 1,9 milhão. Eles deixaram suas casas após a criação do Estado de Israel, em 1948.
A relação com palestinos e israelenses, por vezes, contribui para o reino ser considerado um mediador dos conflitos, ainda que haja desconfianças também de ambos os lados. Shadi Alzoubi, um jovem jordaniano de 35 anos que trabalha em uma empresa de transportes, explica, em parte, esse sentimento. Ele se diz neutro, acredita que Israel tem o direito de existir, mas que os palestinos também deveriam ter o seu país. Ao desembarcar nesta quarta-feira (11, noite de terça, 10, no Brasil) em Amã proveniente de Istambul, junto com GZH, ele dizia estar preocupado com o nível da violência atual.
— Agora, a intensidade é muito maior do que em anos anteriores — compara, lembrando os confrontos entre forças israelenses e o Hamas, em 2014.
Ele afirma condenar a violência do Hamas:
— Não é bom pra ninguém.
Shadi, entretanto, também critica o cerco israelense a Gaza, afirmando que a população está sem luz e sem comida. Questiono se, diante dos acontecimentos recentes, será possível um dia ter paz na região:
— Só períodos curtos de paz. Nada para sempre.
Shadi reflete também o medo de muitos jordanianos de que suas vidas sejam dragadas para a guerra vizinha. O rei Abdullah II, mornarca do país, tem dito que é necessário intensificar os esforços diplomáticos para evitar a escalada da violência com "repercussões perigosas" para a segurança da região. Abdullah garantiu que contatos com vizinhos e com diplomatas estão em andamento para que sejam discutidas "ações urgentes para evitar uma escalada e prevenir a região das consequências de uma nova rodada de violência".
Nesta terça-feira (10), ele ordenou o envio de ajuda humanitária (medicamentos e comida) para a Faixa de Gaza. O carregamento será efetuado em coordenação com as autoridades egípcias através da passagem de Rafah, que divide Gaza do Egito.
A mídia jordaniana transmite em tempo real as imagens de Gaza sob bombas à noite, ao lado de cenas de destroços de prédios. As imagens de terroristas rompendo a cerca entre o território palestino e Israel, no sábado (7), também aparecem, em menor quantidade. Em Amã, uma enorme manifestação ocorreu na terça em defesa dos ataques do Hamas. Na manifestação, era possível ver muitas bandeiras da palestina e também diversas bandeiras verdes do Hamas.
Ao mesmo tempo em que Israel intensifica os bombardeios à Gaza, uma nova frente de preocupação está aberta no norte do país.
Vários disparos provenientes da Síria atingiram Israel. As autoridades locais afirmam que os projéteis caíram em áreas abertas.
A partir do Líbano, também saíram foguetes, que caíram no território israelense, na Galileia (Oeste). As Brigadas Al-Qassam, braço armado do Hamas, reivindicaram os disparos.
Na segunda-feira (9), o movimento libanês pró-Irã Hezbollah disse ter bombardeado dois quartéis israelenses, em resposta à morte de três dos seus membros em ataques do exército israelense em uma zona fronteiriça do sul do Líbano. O grupo Jihad Islâmica palestina reivindicou recentemente uma operação de infiltração em solo israelense a partir do Líbano, em apoio à ofensiva do Hamas.
Voos cancelados
GZH desembarcou em Amã no início da madrugada desta quarta-feira (11). Daqui, são três horas de carro até o posto Sheikh Hussein, na fronteira israelense. Chegar a Tel-Aviv por via aérea é praticamente impossível. A guerra tumultuou o tráfego aéreo na região. O aeroporto Ben Gurion, dos arredores de Tel Aviv, onde foguetes cortaram o céu no terminal nos últimos dias, está com operação instável: ora abre, ora fecha. Segundo GZH apurou, companhias aéreas estrangeiras não estão pousando devido à insegurança no espaço aéreo. O voo de GZH, por exemplo, entre Istambul e Tel Aviv, foi cancelado com mais de 24 horas de antecedência. Apenas aeronaves militares, como da Força Aérea Brasileira (FAB), que retirou cidadãos brasileiros, e da El Al Israel Airlines, companhia israelense, estão pousando.
Rota alterada
GZH chegou a Aman procedente de Istambul. Mesmo assim, a rota do voo foi alterada. Normalmente, o trajeto é percorrido em duas horas, e a aeronave sobrevoa o sul do Líbano. O avião em que GZH estava a bordo levou três horas para percorrer a rota: rumou para o Sul, até o Cairo, Egito, contornando o sul de Israel e rumando para o Norte, até a capital jordaniana. O trajeto, mais longo, tem sido obedecido pelas companhias aéreas da região para evitar cruzar ou se aproximar do espaço aéreo israelense, cortado por mísseis que atacam a Faixa de Gaza e foguetes do Hamas e do sistema de defesa, que compõe o chamado Domo de Ferro.