Menos de 24 horas depois de seu ídolo Donald Trump se apresentar a um tribunal de Nova York, o ex-presidente Jair Bolsonaro também irá comparecer diante de autoridades para prestar esclarecimentos. São supostos crimes, valores envolvidos e processos diferentes. Mas há semelhanças.
As acusações
Trump enfrenta 34 acusações que se concentram em um acordo de suborno com a ex-atriz pornô Stormy Daniels, antes das eleições de 2016. Mas os promotores também o acusam de orquestrar um esquema mais amplo. Teriam ocorrido três pagamentos separados.
Bolsonaro prestará esclarecimentos sobre o caso das joias que recebeu como presente, enquanto era presidente, durante uma visita à Arábia Saudita. Em 2021, o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, tentou entrar ilegalmente no Brasil com um conjunto de colar, anel, relógio e um par de brincos de diamantes no valor total de R$ 16,5 milhões. O conjunto foi retido pela Receita Federal no aeroporto de Guarulhos. Depois dessa revelação, surgiram ainda duas outras caixas com relógios de luxo, abotoaduras e canetas de luxo.
Os valores
Os valores são bem diferentes. No caso de Trump, o primeiro pagamento de suborno teria sido de US$ 30 mil (R$ 151,5 mil) a um zelador da Trump Tower, que afirmou ter conhecimento do caso de um filho ilegítimo de Trump. Um segundo, o pagamento de US$ 150 mil (R$ 757,9 mil) a uma "mulher que afirma ter tido uma relação sexual com Trump. E um terceiro, o pagamento de US$ 130 mil (R$ 656,9 mil) a Daniels.
No caso de Bolsonaro, somando-se o conjunto com o colar (R$ 16,5 milhões) mais as duas caixas com relógios e outros itens (R$ 500 mil cada), chega-se a um valor total de pelo menos R$ 17,5 milhões.
Em que condições eles se apresentam
Trump foi ouvido na condição de réu no caso, que já está bem mais adiantado do que no Brasil. O processo já se encontra na esfera judicial.
No caso de Bolsonaro, ele será ouvido como testemunha. O caso está no início, é ainda inquérito policial.
Os supostos crimes
Trump é acusado de falsificar documentos empresariais dentro do esquema para esconder informações que poderiam prejudicá-lo na disputa eleitoral. Em geral, esse tipo de caso é tratado como contravenção em Nova York, mas o argumento-chave da promotoria é que os registros falsos foram usados para violar leis de campanha eleitoral, o que constituiria crime.
No caso de Bolsonaro, a tentativa de trazer ao país joias sem pagar impostos à Receita Federal e incorporá-las diretamente ao seu patrimônio pessoal, se comprovado, pode ser configurada como crime de peculato.
Outras suspeitas
Nos EUA, Trump é investigado por outras suspeitas, como de ter tentado mudar os resultados eleitorais na Geórgia, durante a apuração, de incentivar o ataque ao Estado democrático de Direito, no caso da invasão do Capitólio, e de levar para casa documentos sigilosos do governo após deixar o mandato.
No Brasil, Bolsonaro foi incluído no rol de investigados em inquérito do Supremo Tribunal Federal (STF) que apura a responsabilidade pela invasão dos três prédios da República em 8 de janeiro. Na visão de promotores, o ex-presidente fez incitação pública à prática de crime, questionando a regularidade das eleições. O presidente também responde a uma Ação de Investigação Judicial Eleitoral (Aije), ajuizada pelo PDT, por suposta prática de abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação durante o evento com embaixadores estrangeiros em julho de 2022. Em agosto, de 2021, ele também foi incluído no chamado "inquérito das fake news", que tramitava no STF, que investiga notícias falsas, falsas comunicações de crimes e ameaças contra os ministros da Corte e está ligado a outra apuração sobre atuação de milícias digitais para atacar a democracia. Há outras investigações em andamento, como, por exemplo, sobre genocídio indígena e interferência na Polícia Federal.