Independentemente do modelo que for adotado para a reoneração dos impostos federais sobre gasolina e etanol, ainda em debate nesta terça-feira (28), o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, venceu o terceiro round da queda de braço fratricida no PT entre a equipe econômica e a ala política, essa última personificada pela presidente nacional do partido, a deputada federal Gleisi Hoffmann (PR).
Para o consumidor final, que sentirá, com maior ou menor grau, o aumento nas bombas de combustíveis, Haddad ficará como o malvado da história, depois de ser voz vencida na transição. No primeiro dia de mandato, o presidente Lula prorrogou a desoneração decidida lá atrás por Jair Bolsonaro por meio de Medida Provisória (MP). O ministro da Fazenda finalmente conseguiu garantir o retorno dos impostos - e dos R$ 28,9 bilhões que virão da aplicação das tarifas, que ajudarão a amortizar o déficit nas contas públicas, na faixa dos R$ 231 bi.
Ainda que consiga amenizar o impacto no preço final dos produtos com ajuda da Petrobras, Haddad sairá, para o público, como o vilão da história. Não será, entretanto, o mesmo entendimento do mercado, que, desde a transição e dos primeiros dias de governo, cobrava sinais de responsabilidade fiscal por parte da equipe econômica. Está aí um movimento importante nesse sentido.
O mau sinal fica por conta da mensagem que o governo em geral e o PT em particular emitem à base aliada no Congresso. Se no primeiro grande tema econômico o Planalto não consegue unificar o discurso, imagine o que virá em ano de discussões complexas como reformas tributária e administrativa.
A ausência de uma fala uníssona, com apenas dois meses de mandato, desorienta partidos que formam a frente ampla no Legislativo, como MDB, PSD e PSB, e dão sinais de falta de unidade do governo para votar outras MPs em tramitação nas duas Casas. Essa desorientação inclusive pode levar deputados e senadores não tão alinhados ao Planalto a aumentarem a fatura para votarem a favor de projetos do governo.
Vale lembrar que Gleisi não foi chamada por Lula para a Esplanada dos Ministérios porque seria, na visão do presidente, fundamental na articulação para garantir os interesses do governo no Congresso. Suas críticas públicas à decisão de reonerar os combustíveis não vão nessa direção.