A cada encontro entre altas autoridades de Estados Unidos e Brasil, espera-se o anúncio pelo governo americano de uma cifra para o Fundo Amazônia, mecanismo internacional que funciona com pagamentos de governos estrangeiros tendo como contrapartida resultados de conservação da floresta. Mas a verdade é que, ao final das reuniões, o sentimento do governo brasileiro é de frustração.
A chegada do enviado dos EUA para o Clima, John Kerry, a Brasília, no domingo (26), reavivou as expectativas, mas nesta segunda-feira (27), de novo, após encontro no Itamaraty, não foi anunciado nada concreto. Coube ao vice-presidente, Geraldo Alckmin, que participou da reunião, dar a notícia.
- O enviado John Kerry não definiu valor, mas colocou que vai se empenhar junto ao governo e ao Congresso norte-americano, e junto à iniciativa privada, para termos recursos vultosos, não só no Fundo Amazônia, como também outras contribuições - disse.
Essa foi a quarta reunião entre Kerry e a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, em que o tema foi tratado. Eles se encontraram antes da posse na COP27, em Sharm el-Sheik, no Egito, e, depois, em Davos, no Fórum Econômico Mundial, na reunião de Lula com Joe Biden na Casa Branca e, agora, em Brasília.
Na visita a Washington, foi ventilado que a doação americana seria de US$ 50 milhões, mas nenhum dado oficial foi divulgado. E o rumor, por si só, já frustrou negociadores brasileiros, que esperavam bem mais.
Parte da expectativa vem das reiteradas promessas de Biden, que, em um comício na campanha pela presidência, contra Donald Trump, em 2020, chegou a citar que daria US$ 20 bilhões para a proteção da Amazônia.
- A Floresta Amazônica no Brasil está sendo destruída, arrancada (...) Tentarei ter a certeza de fazer com que os países ao redor do mundo levantem US$ 20 bilhões e digam (ao Brasil): "Aqui estão US$ 20 bilhões, pare de devastar a floresta. Se você não parar, vai enfrentar consequências econômicas significativas - disse, à época.
Provavelmente, queria irritar Trump e desafiar Jair Bolsonaro, principal aliado do republicano abaixo da linha do Equador. Passados dois anos de governo, nada veio.
O cenário mudou desde 2020, e, além do pós-pandemia, os americanos precisaram lidar com a guerra na Ucrânia. Promete-se US$ 20 bilhões e fala-se em US$ 50 milhões para a proteção da maior floresta do mundo, mas tudo isso é pouco perto do que os EUA já deram, em armamentos para a Ucrânia: US$ 60 bilhões. Já que estamos falando em defesa, o governo americano distribui, por ano, US$ 3 bi para Israel, e US$ 1,5 bi para a autocracia do Egito.
Provavelmente, nem a Casa Branca saiba até onde pode ir na doação porque esse recurso precisa ser negociado com o Congresso, onde o Partido Democrata, de Biden, perdeu maioria na Câmara.
O governo brasileiro tem pressa para que valor seja definido, até porque essa cifra pode funcionar como sinal para outros países adotarem o mesmo caminho, atraindo nações como França, Suécia e Reino Unido, por exemplo. O Fundo Amazônia arrecadou, em 15 anos, R$ 3,4 bilhões em doações. A maior parte veio da Noruega (R$ 3,1 bi). A Alemanha depositou R$ 192,6 milhões.
Uma nova reunião com Kerry foi marcada para esta terça-feira (28).