Em seu discurso durante a abertura da 7ª reunião de cúpula da Comunidade de Estados Latino-americanos e Caribenhos (Celac), em Buenos Aires, na Argentina, nesta terça-feira (24), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva salientou as ameaças institucionais aos governos da região.
— As tentações autoritárias até hoje desafiam nossa democracia — afirmou.
Referindo-se aos atos golpistas do dia 8, agradeceu aos vizinhos que apoiaram seu governo, repudiando os ataques a Brasília.
— Quero aqui aproveitar para agradecer a todos e a cada um de vocês que se perfilaram ao lado do Brasil e das instituições brasileiras, ao longo destes últimos dias, em repúdio aos atos antidemocráticos que ocorreram em Brasília. É importante ressaltar que somos uma região pacífica, que repudia o extremismo, o terrorismo e a violência política.
Lula destacou vários elementos comuns aos países que participam da Celac, como o passado colonial e a presença da escravidão. Também afirmou que a riqueza cultural dos povos indígenas e da diáspora africana os une:
— A história compartilhada de resistência e de luta por autonomia. Tudo isso nos faz sentir parte de algo maior e alimenta nossa busca por um futuro comum de paz, justiça social e de respeito na diversidade.
O presidente brasileiro salientou o retorno do país à Celac, decisão que foi tomada no primeiro dia do novo governo. Em 2022, Jair Bolsonaro retirou o Brasil do fórum, que reúne 33 países do continente.
— No meu primeiro pronunciamento após o resultado das eleições, afirmei que o Brasil estava de volta ao mundo. Nada mais natural do que começar esse caminho de retorno pela Celac — salientou o presidente.
Ao citar parceiros extrarregionais, Lula não se referiu aos Estados Unidos, segundo maior comprador de produtos brasileiros. Prometeu, entretanto, aprofundar os diálogos com União Europeia, China, Índia, Ásia e "muito especialmente" com a União Africana.
Seu discurso também teve como foco a agenda ambiental e dos desafios impostos pela segurança alimentar, energética e da mudança climática. Destacou que desafios globais exigem "respostas coletivas".
— Na área de energia, contamos com capacidades muito especiais para participar, de forma vantajosa, da transição energética global. Temos matrizes energéticas diversificadas e potencial de crescimento em energias renováveis e limpas — afirmou Lula.
Falando antes de Lula, no discurso de abertura do encontro, o presidente argentino, Alberto Fernández, acusou setores de extrema direita como fator de ameaça aos povos da região. Disse que os governos não podem permitir que as ações de grupos, que chamou de fascistas, coloquem em risco as instituições.
Ao falar sobre os atos golpistas na capital brasileira, declarou que que a “loucura invadiu as ruas de Brasília”. Fernandez acrescentou que essas ameaças também estão representadas no atentado a sua vice, Cristina Kirchner, no ano passado e nas revoltas que levaram à renúncia de Evo Morales na Bolívia em 2019, que Fernández considerou um golpe.