Utilizo o exemplo de uma das cerimônias de posse mais tensas da história recente, que cobri como enviado do Grupo RBS, para sustentar essa afirmação: é necessário, desde já, que as forças de segurança do Distrito Federal fechem os acessos ao Plano Piloto em Brasília.
Em 2008, ao final da era George W. Bush, os Estados Unidos haviam sido palco dos maiores atentados terroristas da História, em 11 de setembro de 2001. Tinham vivenciado duas guerras e haviam eleito, em meio à polarização política e com manifestações radicais do racismo estrutural, o primeiro presidente negro da história americana: Barack Obama.
Às vésperas da cerimônia de posse, no National Mall, a esplanada verde de Washington fora fechada por terra, ar e água (na falta de mar, o Rio Potomac). Cheguei a ficar 10 horas parado no mesmo lugar, sob o frio de 12ºC negativos, para observar, por 10 segundos, a comitiva do presidente eleito passar a minha frente, do Capitólio à Casa Branca. Isso se chama rigor, segurança, precaução.
Excesso? Não. As ameaças eram muitas — do extremismo islâmico à ação de lobos solitários, duas faces da mesma moeda, o terrorismo, a ação violenta para fins políticos.
O plano de Jucelino Kubischek para Brasília facilita, do ponto de vista estratégico, fechar a capital federal brasileira por terra, ar e água (na falta de mar, os lagos) de forma muito semelhante a Washington. Basta querer. E ter os recursos para tal.
Controlar acessos ao Plano Piloto é muito mais fácil do que lidar com uma metrópole qualquer. Os drones, como o Iêmen e a Ucrânia têm demonstrado, merecem atenção. A ação de lobos solitários tornou, de alguns anos para cá, muito mais difícil a abordagem securitária — já que bastam ações isoladas, de alguns tresloucados extremistas movidos por uma causa, para provocar o caos.
Parte do necessário já foi feito: a Praça dos Três Poderes está fechada desde 31 de outubro, e o perímetro de segurança fora ampliado há duas semanas.
No entanto, está na hora de as Forças Armadas — até para manterem sua reputação — extinguirem os acampamentos em frente ao Forte Apache, como é chamado o QG do Exército, a poucos quilômetros do Eixo Monumental. Fragilidades já foram demonstradas no dia 12 de dezembro, na noite após a diplomação do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, quando um grupelho tentou invadir a sede da Polícia Federal. Faltou inteligência, planejamento, efetivo e um pouco de criatividade às forças de segurança.
O empresário George Washinton de Oliveira Sousa, detido por planejar colocar uma bomba no aeroporto de Brasília, não é um lobo solitário. Ou, se assim o for, o acampamento de “patriotas” em frente ao QG é uma incubadora de terroristas.
A esses, o rigor da lei.
Ainda que não desapareçam após 1º de janeiro, que lhes reste ao menos o alerta: até a cerimônia de posse no Itamaraty e no Congresso, o comandante em chefe da nação, ainda que calado, é o presidente Jair Bolsonaro. Seu governo é e será o responsável por qualquer episódio de violência que ocorra na cerimônia de posse. Por atos e omissões.