"Follow the money". Desde que a recomendação proferida por uma até então fonte anônima, conhecida apenas como Garganta Profunda, foi direcionada aos jornalistas do Washington Post que desvendariam a corrupção no governo Richard Nixon, nos anos 1970, esta tem sido a mais antiga técnica de investigação utilizada por repórteres, policiais, serviços de inteligência e órgãos fiscalizadores, como o Ministério Público.
"Seguir o dinheiro" tem servido, há décadas, como o caminho das pedras para se chegar a mandantes de crimes, líderes corruptos e financiadores de atos terroristas. De Watergate a Lava-Jato. Dos Estados Unidos de 11 de setembro de 2001 a, quem sabe, o Brasil de 2022.
Já era hora de se seguir o rastro do dinheiro para responsabilizar quem realmente está por trás dos atos antidemocráticos, que questionam o resultado das eleições e reivindicam intervenção das Forças Armadas. Nada é natural ou espontâneo. Sim, o grosso dos bolsonaristas radicais que estão desde o segundo turno, em 30 de outubro, em frente a quartéis ou em acostamentos de estradas, tomando chuva quase todo dia, no caso aqui de Brasília, são apenas a infantaria de quem organiza, fornece apoio logístico e estrutural e principalmente financia os atos.
Basta uma passada pelo "acampamento do golpe", como foi apelidada a reunião de barracas e caminhonetes em frente ao QG do Exército, aqui, na Capital Federal, para se perceber que há uma grande aparato de organização. Na beira das estradas, nenhum motorista de caminhão, por livre e espontâneo desejo de protestar, pode ficar parado tanto tempo sem prejuízo - nem que seja o dinheiro do frete para sustentar sua família.
Nas 103 buscas feitas em oito Estados nesta sexta-feira (15) pela Polícia Federal (PF), por ordem do ministro do Supremo Alexandre de Moraes, foram encontradas 15 armas, incluindo uma submetralhadora, um fuzil, um rifle com luneta, e munições. Por que manifestantes teriam esses armamentos, se os protestos seriam "pacíficos", como dizem? Para que armamentos? Se os atos em Brasília, na última segunda-feira (12), seriam obra de grupos infiltrados de esquerda?
Circulei entre quem estava nos protestos na capital federal e quem vandalizava a região central de Brasília. Eram os mesmos que gritavam que "Lula não subirá a rampa" e frases do tipo "Ouça, mundo, preste atenção, queremos Bolsonaro presidente da nação".
Recolher armas, identificar e prender os autores dos atos extremistas é fundamental. Mas, mais importante, é chegar aos mentores intelectuais e financiadores. A Justiça deu o primeiro passo, com base em informações de inteligência remetidas pelas polícias civil, militar, rodoviária federal dos Estados e Ministério Público (MP), quebrando o sigilo bancário e telemático de investigados e determinando o bloqueio de contas de empresários. Nada mais do que o surrado e eficiente "Follow the money".