Como esperado, a chegada do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva a Brasília destravou a transição. Nesta segunda-feira (28), o relator do Orçamento, Marcelo Castro (MDB-PI) protocolou o aguardado texto da PEC (proposta de emenda à Constituição) que fura o teto de gastos para bancar as promessas de campanha, em especial, o Bolsa Família.
Não mais com prazo indeterminado, como definia a minuta, mas por quatro anos - o mandato petista. Ainda pode ser uma estratégia de negociação: pedir lá no alto, para conseguir um meio termo. Mas os quatro anos de licença para gastar é um prazo de preferência de Lula desde o início, embora se saiba que, no Congresso, a intenção é de uma aprovação por no máximo um ano - os primeiros 365 dias de mandato.
Para tramitação da PEC são necessárias 27 assinaturas de senadores. A análise da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) começa em breve, assim que as assinaturas forem obtidas.
Nos bastidores, como era de se esperar de Lula, ao comandar as negociações diretamente em Brasília, é de que a proposta chegasse ao Senado alinhavada com o ponto final, a ser dado nesta terça-feira (29), com o apoio do PT à reeleição de Arthur Lira (PP) para a presidência da Câmara.
Com isso, Lula estará evitando guerra em nome da governabilidade. Havia essa expectativa já há duas semanas, mas não se sabia qual exatamente seria a participação do PT na mesa diretora e na disputa por comissões - fundamentais para fazer avançar propostas do presidente eleito ao longo do mandato. Com o apoio à reeleição de Lira - e a garantia de que o PT não irá indicar candidato à presidência da Câmara -, Lula evita o fantasma de Dilma Rousseff - ao menos por enquanto.
Em 2015, o deputado federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ) foi eleito presidente da Câmara no primeiro turno, derrotando outros três candidatos, incluindo o representante governista, Arlindo Chinaglia (PT-SP). O resto da história é conhecida: Cunha abriu as portas para o impeachment.
Lula, tudo indica, se alia a Lira e ao PP, partido que fez de tudo para derrotar sua candidatura Brasil afora, em nome da governabilidade.