Toda reputação de negociador nato de Luiz Inácio Lula da Silva será colocada à prova a partir desta segunda-feira (28) em Brasília.
O presidente eleito só esteve na capital federal uma vez depois do segundo turno, no dia 8 de novembro. Depois, viajou ao Egito, para a COP-27, e Portugal. No retorno ao Brasil, era esperado para acelerar as engrenagens da transição, na semana passada, mas foi obrigado a se submeter a um cirurgia para a retirada de lesão na laringe.
Lá se vão 19 dias sem "o chefe", o que é admitido pelos petistas como uma ausência que entravou o avanço das negociações com o Congresso - sobretudo para a aprovação da proposta de emenda à Constituição (PEC) que pretende retirar os valores do Bolsa Família (atual Auxílio Emergencial) do teto de gastos.
Essa é a missão número 1 de Lula ao retornar à capital federal. Ele vai entrar diretamente na negociação para aprovação da proposta, de forma pontual. Mas, ao mesmo tempo, a expectativa é de que reorganize a articulação política da transição como um todo. Falta liderança. E esse gap, nos últimos dias, gerou divergências no próprio PT: o senador Jaques Wagner (BA) reclamou da demora na definição de um ministro da Fazenda, ao que presidente nacional do partido, deputada Gleisi Hoffmann, rebateu, dizendo não se tratar de um rosto, mas de falta de ação de aliados no Congresso.
Parlamentares de todos os matizes da frente ampla em torno de Lula têm dito que a negociação para o encaminhamento da PEC, que precisa ser aprovada até 16 de dezembro, está pulverizada e que falta um interlocutor definitivo. Em resumo, é difícil saber com quem fechar os arranjos e de quem cobrar os acordos.
Por isso, só Lula pode ser o fiador do governo. Nesta segunda-feira (28), a partida entre Brasil e Suíça na Copa pode atrasar um pouco os planos do presidente eleito. Mas a ideia é de que, no máximo em 24 horas, ele converse pessoalmente com os presidentes do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-RO), e da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (Progressistas-AL).
A segunda missão, quase concluída e muito mais fácil do que a PEC, será anunciar os nomes que integrarão os grupos técnicos da Defesa e Inteligência. Os núcleos estão quase fechados, mas o comando da transição, dada a sensibilidade do tema e a proximidade das Forças Armadas com o presidente Jair Bolsonaro, esperava a chegada de Lula para fazer o anúncio, provavelmente nesta segunda.
O presidente eleito deve ficar em Brasília até sexta-feira (2). A pergunta de US$ 1 milhão é: vai ter nome de ministro anunciado? Obviamente, não se sabe. A suposta "demora", muito mais uma ansiedade do mercado na visão de assessores de Lula, é coerente. Eleito pela primeira vez, em 2002, ele anunciou os primeiros titulares das pastas em 10 de dezembro: Antônio Palocci na Fazenda e Marina Silva no Meio Ambiente. Naquele ano, o segundo turno foi realizado em 27 de outubro.