É mais do que um desejo. É quase uma dívida de gratidão.
O presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, quer fazer de Fernando Haddad seu sucessor em 2026. Para isso, o cargo de maior visibilidade do governo, a Fazenda, seria um trampolim. Não seria a primeira vez que o comandante da política econômica saltaria da Esplanada para o Planalto.
Em 1993, Fernando Henrique Cardoso, então ministro das Relações Exteriores, foi chamado para a Fazenda, depois que o presidente Itamar Franco precisou trocar três titulares da pasta em sete meses. Como Haddad, graduado em Direito e doutor em Filosofia, FHC não era um técnico. Mas foi convocado pelas qualidades políticas.
Em meio à hiperinflação, a Fazenda, assim como hoje, era a maior vitrine do governo. Sem ser especialista em economia, o sociólogo cercou-se de um dream team econômico formado por Pérsio Arida, André Lara Resende, Armínio Fraga, Gustavo Franco, Pedro Malan, Edmar Bacha, entre outros. Nasceu o Plano Real, veio a estabilidade e o ministro virou presidente no primeiro turno em 1994.
Não é difícil pensar que o PT planeje o mesmo para Haddad. Sem expertise econômica, poderia ser auxiliado por um segundo escalão técnico ou, como tem sido ventilado desde a noite de quinta-feira (23), por uma parceria com Pérsio Arida no Planejamento.
Não há dúvidas de que, na Fazenda, Haddad levaria méritos se implementar as urgentes reformas de que o país necessita. Mas a pasta é também uma máquina de moer candidaturas. Muitos de seus aliados preferem Haddad em uma pasta social, que, a se cumprirem as promessas, serão o legado de Lula3 a ser apresentado na próxima campanha presidencial.
Outra comparação histórica é entre Haddad e Antônio Palocci, ministro da Fazenda no primeiro governo Lula. Médico, também não tinha conhecimento técnico, mas dispunha de bom trânsito entre o governo e o mercado. Soube construir pontes. Caberia a Haddad fazer o mesmo, buscando o apaziguamento. Um grupo técnico faz as contas. E um grupo político decide e viabiliza os projetos. No caso de Palocci deu certo, até ter seu nome envolvido em corrupção.