Rodrigo Lopes

Rodrigo Lopes

Formado em Jornalismo pela UFRGS, tem mestrado em Ciência da Comunicação pela Unisinos e especialização em Jornalismo Ambiental pelo International Institute for Journalism (Berlim), em Jornalismo Literário pela Academia Brasileira de Jornalismo Literário, e em Estudos Estratégicos Internacionais pela UFRGS. Tem dois livros publicados. Como enviado do Grupo RBS, realizou mais de 30 coberturas internacionais. Foi correspondente em Brasília e, atualmente, escreve sobre política nacional e internacional.

Tensão internacional
Notícia

Em duas semanas, Putin recrutou 200 mil soldados. Outros 200 mil fugiram do país 

Convocação do Kremlin fez cair o véu que fazia cidadãos russos acreditarem na "operação militar especial" na Ucrânia

Rodrigo Lopes

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Satellite image ©2022 Maxar Tech / AFP
Imagens captadas por satélite registram fuga de russos do país após convocação de Putin

Há certa ironia no fato de que, no mesmo dia em que a Kremlin anuncia que mais de 200 mil cidadãos foram convocados para o serviço militar, venha a público a informação que, também 200 mil russos deixaram o país pela fronteira com o Cazaquistão.  

Desde que Vladimir Putin anunciou "mobilização parcial", o véu caiu. O eufemismo da "operação militar especial" deixou de existir, e os russos, apesar da censura, passaram a encarar a verdade: o país está em guerra, uma guerra de agressão contra a Ucrânia

Podem concordar ou não com o que seu governo está fazendo, mas, ao menos, agora, sabem a verdade. 

Desde 24 de fevereiro, primeiro dia da invasão da Ucrânia, Putin usava de o termo "operação militar especial" para se referir ao envio de tropas para além das fronteiras. O mundo inteiro sabia que se tratava de um ataque a outro país independente, uma guerra de agressão que viola os tratados, a diplomacia e o Direito Internacional. Mas a partir dos referendos de anexação, realizados em quatro províncias ucranianas (Donetsk, Luhansk, Zaporizhia e Kherson) e da convocação de 300 mil cidadãos russos para o serviço militar, a guerra deixou de ser um assunto dos grotões da imensidão territorial russa para adentrar nas salas de jantar da elite de Moscou e São Petersburgo.

Esta é a primeira mobilização militar feita pela Rússia desde a Segunda Guerra Mundial. E isso é importante porque, até agora, o conflito envolvia militares do interior profundo, do Cáucaso, por vezes senhores da guerra e mercenários chechenos. Como desgaste das forças regulares e milicianos, o esforço de guerra chega à classe média - o que, no futuro, pode corroer o próprio regime.

O resultado: nos mesmos 14 dias em que Putin angariou (por coerção, diga-se de passagem) recrutas, o mesmo número de pessoas fugiu apenas pela fronteira com o Cazaquistão. Conforme o ministro do Interior do país, uma ex-república soviética, desses 200 mil, mais de 147 mil já partiram para outras nações. Os dois países compartilham uma fronteira de 7 mil quilômetros. É muito mais fácil fugir para o Cazaquistão do que para a Europa. 

Ainda que simbólica, essa estatística está subestimada: a Rússia faz fronteiras com 14 países: além do Cazaquistão, Noruega, Finlândia, Estônia, Letônia, Belarus, Geórgia, Azerbaijão, Mongólia, China e Coreia do Norte, além da Ucrânia e de Polônia e Lituânia (em Kaliningrado). Certamente, esse movimento é muito maior do que o anunciado.

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