O bolsonarismo está enraizado na sociedade brasileira. Ganhe quem ganhar em 30 de outubro, o impressionante volume de votos recebidos por representantes do atual presidente nas disputas estaduais e nacionais de domingo (2) mostram uma capilaridade real dessa força política.
Se em 2018 Jair Bolsonaro era uma surpresa, hoje seu grupo político é mais do que isso, ocupa estruturas de poder e está pulverizado em diferentes partidos. Assim como nos Estados Unidos a eleição de Joe Biden não acabou com Donald Trump, uma eventual vitória de Luiz Inácio Lula da Silva no segundo turno não eliminará bolsonarismo.
Da mesma forma, assim como o ex-presidente americano sequestrou a ala moderada do Partido Republicano, o bolsonarismo abocanhou praticamente todo o espaço reservado à direita e à centro direita brasileira. Poucas vezes na História se tornou tão fundamental definir os limites entre ser conservador, defensor de ideias liberais, do Estado mínimo e do livre-comércio, e ser de extrema direita, como Bolsonaro, que bebe da alt-right americana (a chamada direita alternativa) de Steve Bannon, o ideólogo de Trump.
À exceção da Hungria, de Viktor Orbán, e da Suécia, onde os ultranacionalistas se tornaram governo, esse modelo, que costuma utilizar-se da democracia para corroê-la por dentro, vinha sendo derrotado no mundo - ao menos nas urnas, ainda que seu modus operandi seja não necessariamente reconhecê-las.
A eleição dos Irmãos da Itália, de Giorgia Meloni, na terceira maior economia da União Europeia recentemente deu novo sopro de vitalidade a essa ala que, para dizer o mínimo, guarda certa nostalgia por Benito Mussolini.
A ascensão desses políticos reflete generalizada fragilização da política e uma busca por exercer o voto de protesto. Aliás, não à toa, a ideia de Bannon de atacar o "globalismo" significa um retorno ao nativismo e o "não" ao que consideram um plano das elites progressistas para colocar em marcha uma agenda de esquerda, aniquilando a cultura ocidental cristã ao impor temas como feminismo ou que chama de "gayzismo", termo pejorativo para se referir às causas LGBTQIA+, o ambientalismo e o multiculturalismo.
O grande volume de votos de bolsonaristas nos Estados e no Congresso mostra, assim como a chegada de Marine Le Pen ao segundo turno da eleição presidencial na França em 2022, a normalização da extrema direita. Nesta segunda-feira (3), Trump parabenizou Bolsonaro por seu desempenho nas urnas: "Agora que outros conservadores estão fora da disputa, o presidente Bolsonaro está em uma posição muito forte para uma grande vitória", escreveu no Twitter. No sábado (1º), Orbán, líder de um país já considerado hoje pelo Parlamento Europeu como uma autocracia, enviou um vídeo de apoio ao brasileiro: "Já encontrei muitos líderes, mas vi muitos poucos líderes tão excepcionais como o seu presidente", afirmou.
Depois da Itália, o Brasil se tornou a nova trincheira da extrema direita mundial.