A quatro dias do primeiro turno de uma das mais importantes eleições da história do Brasil, as ações adotadas pelas gigantes de tecnologia como Google (proprietária do YouTube) e Meta (dona de Facebook, Instagram e WhatsApp) têm sido insuficientes para conter a avalanche de desinformação sobre o pleito em suas plataformas.
Um estudo divulgado mundialmente nesta quinta-feira (28) pela organização SumOfUs, que monitora grandes corporações e suas redes sociais, conclui que essas empresas, conhecidas como BigTechs, continuam lucrando com anúncios em conteúdos que atacam as urnas eletrônicas e a democracia no Brasil. O documento em inglês tem como título: "Stop the Steal Part 2: How YouTube and Meta are dismanteling Brazilian Democracy" ("Parem o Roubo Parte 2: Como YouTube e Meta estão desmantelando a democracia brasileira"). A primeira parte do título é uma referência ao lema de grupos americanos pró-Donald Trump, que, após a eleição de 2020, se organizaram em redes sociais, distribuindo informações falsas, questionando a lisura do pleito presidencial nos EUA, não reconhecendo a vitória de Joe Biden e insuflando violência - iniciativas que culminaram na invasão do Capitólio, em 6 de janeiro, no maior ataque à democracia do país na história recente.
O documento da ONG com sede nos Estados Unidos é a continuidade de um estudo cuja primeira fase revelou a campanha de desinformação deflagrada nas mobilizações de 7 de setembro deste ano, organizada por apoiadores do presidente e candidato à reeleição Jair Bolsonaro.
Nesse novo relatório, os pesquisadores analisaram por sete dias (entre 10 e 16 de setembro) milhares de postagens de mídia social, anúncios e vídeos relacionados às eleições brasileiras. O resultado da pesquisa aponta a existência de um "ecossistema de conteúdo organizado com o objetivo de minar o processo eleitoral". Por exemplo, há vídeos que espalham desinformação sobre urnas eletrônicas, atacam autoridades do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e promovem golpe militar.
Na avaliação dos pesquisadores, apesar das empresas Meta e Google reivindicarem que a moderação de conteúdos eleitorais é prioridade, suas plataformas (Facebook e YouTube em especial) estão sendo usadas por grupos de extrema direita para divulgar teorias da conspiração e ampliar dúvidas sobre a integridade do processo eleitoral. Há quatro principais descobertas:
1) Meta tem aprovado e rodado dezenas de anúncios que colocam em dúvida o processo eleitoral.
2) Anúncios que espalham desinformação sobre urnas e contagem de votos e promoção de um golpe militar.
3) Altos níveis de engajamento com vídeos ao estilo "stop the steal", semelhantes no tom aos divulgados por apoiadores de Trump em 2020 - no caso brasileiro, de seguidores de Bolsonaro. Apenas 10 vídeos desse tipo contabilizam 22 milhões de visualizações no YouTube.
4) Evidências de que o YouTube continua monetizando e lucrando com canais de desinformação, apesar de o TSE ter ordenado que a plataforma bloqueasse pagamentos a propagadores de desinformação.
Apesar do aparente esforço de Meta e Google para combater a desinformação eleitoral no Brasil, o estudo conclui que as ações são insuficientes diante da avalanche de desinformação. A pesquisa mostra ainda que muitas vezes cópias de conteúdos retirados do ar podem ser encontradas em outro canais e páginas na mesma plataforma. No caso da Meta, a investigação sugere que os mecanismos automáticos da empresa para bloquear e remover textos e vídeos mentirosos não estariam funcionando de forma eficiente para vídeos em português.
O relatório na íntegra pode ser lido aqui (em inglês)