A guerra na Ucrânia completa nesta sexta-feira (24) quatro meses. A coluna analisa quatro pontos do conflito, que já matou mais de 10 mil pessoas só do lado ucraniano (no campo russo, os dados não estão disponíveis) e provocou o maior êxodo de refugiados na Europa pós-Segunda Guerra Mundial.
1) O conflito mudou a segurança internacional.
Ninguém mais olha para a Rússia como antes de 24 de fevereiro. O país de Vladimir Putin é, hoje, uma ameaça à Europa, um pária internacional. A guerra fez com que nações outrora pacíficas dobrassem seus orçamentos militares e passassem a investir mais em defesa, caso de Alemanha e Suécia, por exemplo. A Europa está mais armada. Putin conseguiu mudar o status de segurança europeu.
2) Putin deu uma razão para a existência da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).
O argumento do presidente russo ao invadir a Ucrânia, em 24 de fevereiro, era evitar a ampliação da aliança militar do Ocidente. Ok, dificilmente, a Ucrânia entrará para a Otan, mas a organização aumentará de tamanho em breve, com as adesões de Suécia e Finlândia. Muitos analistas, antes da guerra, questionavam a necessidade de a Otan continuar existindo, uma vez que, com o colapso soviético, em tese, a ameaça representada pelo país deixara de existir. O conflito mostrou que não é bem assim. Antes dividida, a União Europeia (UE) também se uniu contra o inimigo comum e aceitou, na quinta-feira (23), a Ucrânia como candidata a membro do bloco econômico.
3) O mundo deve se preparar para uma guerra longa.
A própria Otan já admite isso. Nos anos 2000, nos acostumamos a conflitos com rápida resolução. Afeganistão e Iraque são exemplos disso. Mas, em ambos os casos, estavam envolvidos os Estados Unidos, maior potência militar do planeta.
No caso da Rússia, mesmo sendo a segunda maior potência em termos de defesa, o país está muito abaixo na comparação com os americanos. A Rússia não tem a mesma capacidade aérea americana e enfrenta problemas logísticos que a obrigaram a mudar a estratégia e desistir da ocupação da Kiev, a capital ucraniana.
Grosso modo, a Ucrânia já está em guerra desde 2014, na região do Donbass. Um conflito de baixa intensidade deve continuar na área, com resistência ucraniana, enquanto durar o apoio do Ocidente, e com a Rússia avançando em algumas cidades e recuando em outras.
4) Putin não deve parar na Ucrânia.
O aceite da Moldávia como candidata à UE, dado pela Comissão Europeia, na quinta-feira (23), junto com a Ucrânia, é um recado à Rússia. O bloco entende que o país pode ser o próximo alvo do Kremlin.
A Moldávia tem uma área separatista em seu território, cujo status quo é mantido por tropas russas. Outro ponto de atenção fica ao Norte, no Báltico, onde está Kaliningrado, exclave russo entre a Lituânia e a Polônia, ambos países da Otan. É o ponto de maior tensão entre o Ocidente e a Rússia. Nesta semana, a Lituânia decidiu aplicar as sanções impostas pela UE, o que, na prática, impede que trens com produtos russos cruzem seu território. Isso isola Kaliningrado. A Rússia promete responder ao que considera esse um ato hostil. Uma invasão por terra da Lituânia tragaria a Otan diretamente para o conflito.