É praticamente certo que Emmanuel Macron e Marine Le Pen irão para o segundo turno ao final deste domingo, na França. Também é previsível que uma grande coalizão "republicana" se repetirá, como em 2017, para tentar evitar que a extrema-direita chegue ao poder na 5ª Republica francesa.
Dito isso, olhemos para os cinco anos da "era Macron" no Palácio do Eliseu. Quando assumiu o poder, em 7 de maio de 2017, o presidente que tenta o segundo mandato era o mais jovem eleito da história francesa. Tinha apenas 39 anos. Exibia-se como o fato novo da política, a começar pelo nome de seu movimento, La République en Marche!. Mas, ainda que jovem e com visual moderno, Macron não era tão novo assim: havia sido ministro da Economia de seu antecessor, François Hollande, de quem fora consultor econômico. Rejeitava a esquerda e a direita. Posicionava-se de "centro centro". Quando assumiu, ao som do hino da União Europeia (UE), o Hino à Alegria, de Ludwig van Beethoven, a principal preocupação da Europa era com o Brexit, a saída do Reino Unido do bloco político-econômico. Menos de um ano após a eleição de Donald Trump, nos Estados Unidos, Macron encarnava uma espécie de líder espiritual dos valores europeus pós-Segunda Guerra Mundial.
- Nossa civilização está em jogo, nosso modo de viver, de ser livre de pensar nossos valores e nossas esperanças - disse, na posse.
Cinco anos e um mandato depois, a Europa vive uma guerra que Macron tentou, sem sucesso, mediar. A França não é a Turquia nem Macron Receep Erdogan, o autocrata turco. Assim, enquanto Macron buscava se firmar como estadista europeu, na ausência da parceria de Angela Merkel, que deixou o cargo em dezembro de 2021, foi deixando a campanha de lado. Entrou, mesmo, na disputa há apenas seis semanas da eleição, um erro grave que pode lhe valer a derrota no segundo turno.
Enquanto Macron olhava para Kiev e demorava a subir no palanque em Paris, Marine Le Pen se comunicava, como sabe bem fazer, com a França profunda: um discurso mais suave em relação à antiga xenofobia do passado e mais conectado com a realidade do cidadão comum, preocupado com o alto custo de vida, com corte de impostos e com a Previdência. São temas que tocam fundo na vida do eleitor, principalmente diante dos impactos da pandemia de covid-19 e de um conflito que provavelmente irá se alongar.
Mas voltemos a Macron, um presidente que por vezes se preocupou mais com os colegas de Bruxelas do que com assuntos internos de seu país. Mesmo assim, em seus primeiros anos no Eliseu, ele adotou a polêmica mas necessária reforma trabalhista, sem ceder à pressão das ruas. Depois, ao tentar rever a Previdência, elevando a idade de aposentadoria para 65 anos, colecionou greves e revoltas. Acabou por recuar por conta da pandemia.
Na crise sanitária, Macron adotou uma postura centralizadora, por vezes decidindo medidas a portas fechadas e com poucos assessores, seu conselho de defesa. A França decretou estado de emergência, teve um dos mais rigorosos lockdowns entre as democracias mundiais e seu presidente foi um dos primeiros a criar o passaporte vacinal. A população, habituada ao escrutínio público das ações presidenciais, em um primeiro momento, resistiu, mas, ao final, aderiu às medidas. Macron encerra o governo com 46% de aprovação, quase o dobro de Hollande a essa altura do campeonato, em 2017.
Se vencer o segundo turno, conduzirá a nação e buscará se firmar como um líder de um continente cada vez mais preocupado com a segurança, com o aumento dos orçamentos de defesa e em meio a uma corrida armamentista. Ventos do Leste trazem nuvens sombrias à Europa Central.