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É absolutamente desconcertante o relato obtido pelo fotógrafo André Liohn, da Folha de S. Paulo, de uma sobrevivente do ataque russo ao teatro onde estavam abrigadas centenas de civis em Mariupol, cidade da Ucrânia que se tornou símbolo da desgraça da guerra.
O bombardeio foi em 16 de março, mas o drama começara 11 dias antes. Iludidos de que os russos teriam aceitado um cessar-fogo para a retirada de civis reféns em suas próprias casas, os moradores de Mariupol foram orientados a se reunirem em pontos específicos até a fuga. Quem morava na área central deveria ir até o teatro.
Com o passar das horas, o local foi enchendo, os banheiros começaram a entupir, não havia comida para todo mundo e fazia frio - muitos que deixaram suas casas às pressas não levaram roupas suficientes nem para as crianças. As poltronas da plateia se converteram em camas improvisadas, as mulheres e crianças foram autorizadas a ficar em corredores estreitos, que pareciam mais seguros por ficarem afastados das janelas.
Com o ar insuportável, as pessoas começaram a buscar abrigos mais próximo das saídas. Como essas áreas são mais vulneráveis, em caso de explosões, alguém teve a ideia de escrever, do lado de fora, no chão, com tintas brancas a palavra "criança" - diante da fachada frontal e nos fundos.
Não adiantou. No dia 16 de março, uma explosão atingiu o entorno da edificação no que, até o momento, parece ser a maior evidência de um crime de guerra cometido pela Rússia.
No relato obtido por Liohn, a sobrevivente calcula que havia cerca de 1,5 mil pessoas no teatro, mas, passados nove dias, ninguém sabe ao certo quantas pessoas morreram. Nesta sexta-feira (25), a prefeitura de Mariupol estimou que sejam 300.
- Nos recusamos a acreditar nesse horror, queremos acreditar que todos saíram ilesos. Mas os depoimentos de quem estava dentro do prédio no momento do ato terrorista dizem o contrário - escreveu a prefeitura, em sua conta no Telegram.
Não é necessário esperar confirmação de 300 mortos para caracterizar esse ato como um dos mais graves do conflito atual, daqueles horripilantes episódios a se juntar a My Lai, Srbrenica, Kunduz e Duma. Na ordem, a morte de civis inocentes na Guerra do Vietnã por militares americanos; o genocídio na Guerra da Bósnia pelas mãos de soldados sérvios, o hospital da organização Médicos Sem Fronteiras alvo de bombardeio americano no Afeganistão; o vilarejo nos arredores de Damasco alvo de armas químicas pelo ditador sírio, Bashar al-Assad. 1968, 1995, 2015 e 2018, anos inscritos a sangue na História recente da humanidade.