Diante do maior desafio de sua trajetória política, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, tem se mostrado lento e fraco ao tentar se impor à Rússia de Vladimir Putin. A primeira manifestação pública, na qual anunciou o pacote de sanções econômicas ao país, veio somente 24 horas depois da declaração de Putin de reconhecer a independência de Donetsk e Lugansk. Foi muito tarde.
Putin se aproveita das fragilidades do governo Biden, que saiu de uma caótica retirada de tropas do Afeganistão - acerto feito pelo governo Donald Trump, mas a saída vexatória recaiu sobre o democrata.
No imaginário americano, a conta é simples: quando a Rússia tomou a Crimeia era o governo Barack Obama, e, agora, é um representante do mesmo partido (Biden) no poder na Casa Branca. Por outro lado, durante o mandato de Trump nada aconteceu.
O pensamento é simples e não reflete as complexidades das política americana e das relações internacionais. Mas, grosso modo, é o que o eleitor médio pensa - e é assim que vota. Haverá eleições de meio de mandato (as midterms) em novembro, o mais duro desafio doméstico do governo Biden, nas quais a Casa Branca deve perder a maioria na Câmara e no Senado (nessa segunda Casa, a vantagem deve-se apenas ao voto de minerva que cabe à vice-presidente Kamala Harris).
Segundo o site FiveThirtyEight, que compila as pesquisas de opinião pública nos Estados Unidos, Biden tem 52,9% de rejeição, contra 42,3% de aprovação. O ponto de inflexão foi justamente em agosto, quando houve a saída de Cabul. A essa altura do mandato, Trump tinha uma aprovação de 40%, e Obama, de 48,8%. A rejeição do republicano era de 54,4% e do democrata, de 44,6%.
Além do vexame internacional da retirada do Afeganistão, no campo interno Biden enfrenta inflação alta, prateleiras de mercados vazias e gasolina cara. Não seria exagero dizer que a administração democrata enfrenta sua maior crise. E Putin sabe disso.