A nova rodada de sanções impostas por países do Ocidente para tentar bloquear os anseios do presidente russo, Vladimir Putin, na Ucrânia não será suficiente para evitar uma guerra. Por diferentes motivos: primeiro, a Rússia vive sob sanções há pelo menos desde 2014, quando ocupou e anexou a Crimeia, território no sul ucraniano. Há pelo menos 700 agentes (entre pessoas e entidades) sob sanções de diferentes tipos - desde a proibição de entrada em países ocidentais (o que inclui seus familiares) até o impedimento de fazer transações financeiras com entidades, governos e outras pessoas nessas nações. Muitas dessas pessoas têm relações estreitas com o Kremlin.
O outro motivo é que a Rússia tem reservas internacionais suficientes para sobreviver por bom tempo em meio a restrições. Teria acumulado US$ 600 bilhões, o que reduz as vulnerabilidades às sanções.
Sem falar que a aliança selada entre o Kremlin e a China, durante a abertura dos Jogos Olímpicos de Inverno, em Pequim, no início do mês, coloca ao lado de Putin a segunda maior potência econômica do planeta. Ou seja, a China tem capacidade de dar suporte à Rússia por longo período.
Além disso, sanções isoladas nunca surtiram efeito, fazendo governantes recuarem de suas intenções - não impediram a Coreia do Norte de desenvolver armas nucleares, não declinaram o Irã de ir adiante com seu projeto atômico nem de Bashar al-Assad e Saddam Hussein cometerem atrocidades, com armas químicas, contra suas próprias populações.
Como a Ucrânia não é membro da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) - o que faria valer o artigo 5º, segundo o qual um ataque contra um integrante é um ataque contra todos -, o país do Leste Europeu se vê praticamente indefeso. Os Estados Unidos e os países europeus não irão socorrer a Ucrânia em caso de invasão em larga escala por parte da Rússia.
Estamos prestes a ver a repetição do cenário já visto na Crimeia em 2014, quando o enredo era muito parecido: Putin sai em defesa dos "russos étnicos" de uma região separatista e usa isso como argumento para a invasão e anexação. Também naquele momento, houve muita gritaria e sanções do Ocidente, mas, na prática, o mundo assistiu, de braços cruzados, um naco de terra de um país independente e soberano ser tomado de assalto por outro governo.