— Foi a pior noite da minha vida.
A frase é do jogador gaúcho Cristian Daniel Dal Bello Fagundes, 22 anos, que tenta desesperadamente deixar a Ucrânia junto com outros quatro brasileiros. O grupo estava a caminho da fronteira com a Polônia, depois de caminhar por mais de 40 quilômetros. Mas, diante da aglomeração de refugiados que tentam fugir da guerra, ele e os amigos desistiram, por enquanto. Ficaram impotentes diante da massa humana que se acumula a quatro quilômetros da fronteira com a Polônia, no lado ucraniano.
— Não conseguimos. Quase congelamos. Tivemos que fazer uma fogueira. Dormimos na rua — contou.
Cristian está acompanhado de Guilherme Smith, natural de Juiz de Fora (MG), e Leovigildo Junior Reis Rodrigues, conhecido como Juninho, de Cataguases (MG), que seguia para a fronteira com a esposa, Vitória, e o filho, Benjamin.
Após a madrugada de sábado para domingo ao relento, quando a temperatura caiu abaixo de zero nessa região, Cristian e os demais brasileiros conseguiram um ônibus para voltar à cidade ucraniana de Lviv, onde buscaram um hotel.
Os brasileiros saíram de Zaporizhzhya (no extremo oposto da Ucrânia), onde morava, rumo a Lviv, de trem. Por volta das 6h de sábado, conseguiram desembarcar na cidade. Natural de Passo Fundo, Cristian divulgou um vídeo em redes sociais no qual afirmou:
— A gente pegou um trem de emergência de Lviv, da nossa cidade, onde teve evacuação imediata. Conseguimos sair de lá, graças a Deus. Chegamos a Lviv e conseguimos pegar um motorista que andou cinco quilômetros em direção à divisa e não quis mais andar por causa de muitos carros. Tivemos de vir a pé. Estamos há umas sete horas caminhando, já andamos mais de 40 quilômetros. Faltam mais ou menos umas três horas para chegarmos à divisa. Está escuro e muito frio.
Em contato com a reportagem, às 23h30min locais no sábado, ele confirmou que ainda estava em território ucraniano.
— A gente conseguiu achar um posto aqui, tem umas coisas para comprar. Estamos dentro da Ucrânia ainda e temos uma hora e meia de caminhada.
A sensação ao desistir, ao menos por enquanto na jornada, é carregada de frustração, medo e incerteza.
— Não chegamos nem próximos da fronteira. A fila de pessoas cobre a rua toda e estávamos a quatro ou cinco quilômetros — diz.