Com a posse nesta quarta-feira (8) de Olaf Scholz como chanceler da Alemanha, encerram-se, oficialmente, os 16 anos anos de Angela Merkel no poder da maior economia da Europa. Por apenas nove dias, ela não superou Helmut Kohl, que detém o recorde do mandato mais longevo no Bundestag desde o legendário Otto von Bismarck.
O apagar das luzes do governo Merkel e a entrada em cena de Scholz traz continuidades e rupturas. Continuidades porque o novo chanceler não é grande novidade na cena política alemã - até esta quarta-feira (8), ele exercia o cargo de vice-chanceler, o número 2 de Merkel, e ministro das Finanças, como parte da coalizão de governo entre o Partido Social Democrata (PSD) e a União Democrata Cristã (CDU).
Ainda assim, as novidades são várias: a CDU, um das duas grandes legendas políticas da Alemanha, pela primeira vez em 16 anos, cai fora do governo. No lugar, entra uma coalizão tripartite desde a Segunda Guerra Mundial - o PSD fica, com Scholz, que se une ao Partido Verde (PV) e ao Partido Democrático Liberal (FDP). Essa aliança dá ao governo 416 das 736 cadeiras do parlamento alemão - 47 a mais do que o mínimo necessário para confirmar Scholz no cargo de chanceler e uma boa margem para o governo aprovar medidas importantes - e, por vezes polêmicas, que virão, no intuito de combater mudanças climáticas (algo que Merkel não conseguiu cumprir) e modernizar a economia.
Outra novidade é a ascensão dos verdes ao governo. É a grande sensação da política europeia, no momento em que o mundo -incentivado pela agenda americana do presidente Joe Biden - parece ter acordado (finalmente, depois de muito blá-blá-blá e dinheiro gasto em conferências) para o problema das mudanças climáticas. O partido ocupa cinco dos 16 ministérios, entre eles o da política externa, com a líder da legenda Annalena Baerbock, e o do Ambiente, com Robert Habeck, que acumulará o cargo de vice-chanceler.
A era Merkel foi marcada, no cenário externo, pelo rescaldo da Guerra ao Terror, por atentados extremistas do Estado Islâmico na Europa - Berlim, inclusive -, pela crise econômica de 2008, seguida da crise do euro e pela onda de migrantes provenientes dos conflitos no Oriente Médio e norte da Ásia.
O novo tempo, de Scholz, chega quando a Europa enfrenta a quarta onda de covid-19, na expectativa de se saber a real periculosidade da variante Ômicron e com cenário de resistência à imunização - que não é tão alto quanto em nações como a Áustria, mas registra seus bolsões negacionistas. Outro desafio será liderar uma União Europeia (UE) fragilizada por movimentos como o Brexit, o fortalecimento dos eurocéticos na Itália e no Leste e as democracias se liquefazendo na Hungria e na Polônia. Por fim, mas não menos importante, há ainda a necessidade de equilibrar o país - e o continente - entre o ressurgimento da Rússia no cenário internacional, as oportunidades lançadas pela China, e a pressão americana.