
Muito do que ocorreu, nos bastidores, no trágico 6 de janeiro de 2021, em Washington, o dia em que a democracia nos Estados Unidos morreu mais um pouco, ainda é desconhecido do público e da imprensa. Mas, aos poucos, pequenas frestas sobre o papel (ou a inação) do presidente Donald Trump diante de seus apoiadores que tomaram de assalto o prédio do Capitólio começam a vir à tona.
Trump se livrou do impeachment nos últimos dias de mandato em razão da então maioria republicana no Senado. Seus quatro anos de governo são página virada. Mas a invasão do parlamento segue sendo investigada por uma comissão da Câmara.
Nesta terça-feira (14), um grupo de parlamentares revelou mensagens trocadas por alguns dos homens mais próximos do presidente - inclusive um de seus filhos, Donald Trump Jr. -, que mostram o estupor deles diante da falta de pulsodo comandante-em-chefe da nação frente ao maior ataque à democracia que o país já sofrera.
- Ele tem que condenar essa m... o mais rápido possível - escreveu Trump Jr. a Mark Meadows, então chefe de Gabinete do presidente, enquanto os fatos no Capitólio se desenrolavam. - O tuíte da Polícia do Capitólio não é suficiente.
Meadows concordou. Trump Jr., então, continuou:
- Precisamos de um pronunciamento no Salão Oval da Casa Branca. Ele tem que liderar agora. Foi longe demais e saiu do controle.
As mensagens foram lidas pela deputada republicana Liz Cheney.
Só depois de muita insistência, o presidente gravou um vídeo, pedindo a seus apoiadores que "voltassem para casa". A troca de mensagens não inclui apenas o filho do presidente e Meadows, mas também apresentadores da Fox News (emissora ligada aos republicanos) e alguns deputados.
- Mark (Meadows), o presidente precisa dizer às pessoas no Capitólio para irem para casa. Isso está prejudicando a todos nós. Ele está destruindo seu legado - escreveu Laura Ingraham, apresentadora da Fox News.
Entre as mensagens estão apelos ao presidente, do tipo:
- POTUS (acrônimo usado para indicar "presidente dos Estados Unidos", em inglês) precisa vir a público e dizer aos manifestantes se dissiparem. Alguém será morto.
- Mark (Meadows), ele (Trump) precisa parar isso. Agora.
- Diga a eles para irem pra casa (em letras maiúsculas).
O mais grave: as mensagens denotam que a Casa Branca (e Trump em particular) não apenas sabia o que estava ocorrendo no Capitólio como teria voz de comando sobre a massa de vândalos. Nos dias anteriores à invasão, o presidente incentivou manifestações em Washington contra o resultado da eleição, questionando a legitimidade do pleito, que havia perdido para Joe Biden.