“Lei e ordem” se faz com respeito à democracia, às leis e às instituições.
Donald Trump, que se vangloriou de ser o presidente “da lei e da ordem”, colocando-se muitas vezes ao lado da cultura policial truculenta e racista dos Estados Unidos, quando manifestantes iam às ruas reivindicar que vidas negras importam, pode ser punido por ter insuflado a desordem e a ilegalidade de um ataque ao Congresso.
Enquanto você lê este texto, nos gabinetes do próprio Capitólio, parlamentares da oposição articulam a reação.
Há dois caminhos para impedir Trump de concluir o mandato a nove dias da sucessão. O primeiro seria pela evocação da 25ª Emenda da Constituição, que permite a remoção do presidente se ele for considerado incapaz de exercer suas funções e deveres. Ela deve ser reivindicada pelo vice-presidente, Mike Pence, que se afastou do chefe desde os eventos de quarta-feira (6).
No domingo (10), a presidente da Câmara dos Deputados, a democrata Nancy Pelosi, afirmou que tentará uma resolução unânime dos parlamentares para pressionar Pence a evocar a emenda. A iniciativa, no entanto, não deve avançar na Casa, devido à objeção dos republicanos, apesar de alguns já terem se mostrado favoráveis à saída antecipada de Trump. Sem a unanimidade, Pelosi deve levar a resolução para votação no plenário, o que pode ocorrer nesta terça-feira (12).
A outra saída, mais demorada, seria um novo processo de impeachment, como o que passou na Câmara e foi barrado pelo Senado em 2020. Pela primeira Casa, avançaria rapidamente (ainda que com atrasos burocráticos), mas de novo enfrentaria uma batalha no Senado. Para aprovação são necessários dois terços do Senado. Como os republicanos têm 50 assentos, seria necessário que alguns traíssem o partido. Há sinais nesse sentido, mas não o suficiente para aprovar a medida.
O risco de novo processo de impeachment seria dividir ainda mais o país. Uma pesquisa ABC News/Ipsos divulgada no domingo (10) mostrou que 56% dos americanos acreditam que Trump deve ser removido do cargo antes do fim do mandato, enquanto 43% dizem que não. Os dados mostram ainda que metade dos americanos querem que o presidente seja cassado, que a 25ª Emenda seja evocada ou que Trump renuncie.
Além disso, o novo processo de impeachment dinamitaria de saída a relação do governo Joe Biden com a oposição.
Qualquer uma das duas ações seria traumática. A saída pela 25ª Emenda é mais rápida e livra em parte os democratas de responsabilidade. Por outro lado, significaria um levante dentro do próprio governo - com o vice e a maioria dos secretários (ministros) entendendo que o chefe não tem mais condições de governar, o que pode antecipar uma previsível batalha fratricida entre o trumpismo e alas moderadas do Partido Republicano.