Cubro conferências das Nações Unidas sobre mudanças climáticas desde 2004, tempo em que as delegações brasileiras eram esperadas com ansiedade nos palcos internacionais pela relevância de sua posição diplomática e liderança em assuntos ambientais.
Um dos mantras desses eventos era: "responsabilidades comuns, porém diferenciadas", consagrado na Rio-92 e que determina que países desenvolvidos devem arcar com custos maiores para o desenvolvimento sustentável do que as nações em desenvolvimento. Traduzindo a linguagem diplomática: isso significa que nações do Primeiro Mundo alcançaram a riqueza poluindo o ambiente e não poderiam, agora, exigir que países pobres paguem a conta, assumindo compromissos de redução da emissão de gases poluentes que podem comprometer seu próprio desenvolvimento industrial, por exemplo.
Mas, então, por que responsabilidades comuns? Porque, em tese, o problema do aquecimento global é de todos nós, seres humanos. De quem mora em Pequim, Washington, Katmandu ou Porto Alegre. Porque o ar que uma empresa polui em Bangladesh é o mesmo que respiramos por aqui. E, em tese, só um esforço global pode salvar o planeta.
Por isso, a COP-26 (Conferência das Nações Unidas para Mudanças Climática), que começa no final do mês, em Glasgow, na Escócia, é mais uma chance de os países combinarem mecanismos para combater a crise climática. O evento é aguardado, principalmente, para que tornam mais ambiciosas as metas até 2030, período-chave para que se consiga limitar o aquecimento do planeta em 1,5ºC.
No atual cenário de confronto entre Estados Unidos e China pela hegemonia do sistema internacional no século 21, dificilmente pode-se imaginar que as duas delegações concordem com algum tópico - e acabem por melar qualquer acordo. Mas e se a competição entre as duas nações que mais poluem o planeta for bom para o ambiente?
Durante a Guerra Fria, Estados Unidos e URSS protagonizaram uma corrida armamentista que, além de material bélico que quase levou o planeta à autodestruição, gerou avanços tecnológicos com transbordamento para o campo civil. A internet e a conquista do espaço são exemplos. De certa forma, o novo ambiente de competição neste século, com a China ocupando o lugar dos soviéticos, deu ao mundo, em tempo recorde, as primeiras vacinas contra a covid-19.
É óbvio que a colaboração é melhor. Mas não é difícil imaginar que, cada um por si, EUA e China queira se mostrar como campeões da proteção ao ambiente e economia verde. E, assim, implementar por conta própria medidas radicais de mitigação dos anos ambientais.
O presidente dos EUA, Joe Biden, quer deixar como legado a liderança americana no tema. O presidente chinês Xi Jinping já prometeu parar de financiar o carvão em seus projetos no exterior, o que melhora a reputação do dragão como ator positivo para o clima. EUA e China engajados em uma "corrida" para ver quem faz mais pelo planeta seria uma competição pelo bem da humanidade. Mesmo que se busque o consenso, talvez não seja de todo ruim a competição.