Shutdown (literalmente, desligamento) é o termo, na economia, usado pelos americanos para se referir à paralisação dos serviços federais, que ocorre quando o orçamento para o novo ano fiscal (que nos Estados Unidos começa nesta sexta-feira, 1º) não é aprovado pelo Congresso a tempo. Desde 1970, o país já sofreu 21 shutdown, três deles durante o governo Donald Trump. Mas praticamente todos os presidentes enfrentaram o problema.
Entre 2018 e 2019, a paralisação dos serviços federais durou 35 dias, a mais longa da história americana. À época, a falta de acordo entre republicanos e democratas no Congresso devia-se em boa parte à obsessão de Trump com a construção do muro na fronteira com o México.
Quando ocorre o shutdown, dezenas de agências do governo e a maioria dos departamentos (equivalente a ministérios), incluindo o Departamento de Segurança, de Transportes, de Estado e da Justiça, ficam sem operar. Os americanos não podem, por exemplo, tirar passaporte ou obter vistos. Das últimas vezes, por exemplo, a Estátua da Liberdade ficou fechada aos turistas.
Durante o shutdown, o governo não pode se comprometer com nenhuma outra despesa até que o orçamento seja aprovado. Isso provoca o congelamento parcial dos serviços e atividades governamentais.
Este ano, o risco de o governo paralisar é ainda mais grave devido à pandemia, porque pode não apenas comprometer os avanços feitos até agora em relação à covid-19 como também prejudicar a recuperação econômica. Por isso, ao menos desta vez, tanto democratas quanto republicanos concordam que um shutdown neste momento precisa ser evitado.
Os dois partidos têm até a meia-noite desta quinta-feira (30) para chegar a um acordo sobre o financiamento para o novo ano fiscal. Desta vez, as divergências se davam porque os democratas condicionavam a aprovação do orçamento à suspensão do limite de endividamento público (o quanto o governo americano pode tomar emprestado para honrar seus compromissos), algo que a oposição se recusava a aprovar. Nas últimas horas, os democratas desvincularam as iniciativas. Mas, mesmo assim, há divergências de fundo: os republicanos, por exemplo, dizem que os gastos são elevados demais e que as propostas do governo democrata aumentariam a presença do Estado em áreas sob controle privado. O presidente Joe Biden elegeu-se prometendo maior presença do Estado na economia - algo que a pandemia também exigiu.
O financiamento do governo e o limite do endividamento são apenas dois dos desafios que Biden enfrenta na batalha no Congresso. Ele também tem pela frente a votação do pacote de US$ 1,2 trilhão para obras de infraestrutura e de outro, de US$ 3,5 trilhões, de investimentos sociais, no qual estão embutidos projetos como acesso gratuito a pré-escola e iniciativas de combate às mudanças climáticas.
Tudo isso em meio a um momento delicado da administração, depois que Biden saiu com a imagem arranhada em razão da desastrosa retirada das tropas do Afeganistão em meio à retomada do poder em Cabul pela milícia Talibã. Sua popularidade caiu 13 pontos percentuais desde julho. Para quem está na oposição, a ameaça de shutdown costuma ser uma forma de desgastar a presidência - era o que os democratas faziam quando Trump estava no poder. Mas a situação também revela divergências internas entre os diferentes grupos políticos dentro do partido de Biden: a ala mais progressista, por exemplo, quer aumentar os gastos sociais, enquanto os mais moderados desejam segurá-los.
Na Câmara, os democratas têm maioria estreita (220 contra 212 assentos). Mas, no Senado, há empate: 50 a 50, com o voto de minerva da vice-presidente do país, Kamala Harris. Por isso, basta que um senador democrata vote contra as intenções de Biden ou se abstenha para que ponha tudo a perder para o lado do governo.