Ricas nações da Ásia e da Oceania, que se tornaram símbolo de competência ao conter o coronavírus, apresentam números muito baixos de imunização contra a covid-19.
O Japão, por exemplo, que empreendeu uma luta casa a casa contra a doença, testando em massa a população e fazendo o rastreamento dos casos, com o uso de tecnologia e pessoal qualificado, aplicou até agora apenas 0,55 dose por cem habitantes.
O mais impressionante é que o país pretende sediar a Olimpíada de Tóquio daqui a apenas quatro meses. Recentemente, o CEO do comitê de organização dos Jogos, Toshiro Muto, garantiu que não há chance de adiar de novo as competições - elas estavam previstas inicialmente para julho de 2020, foram postergadas em razão da pandemia e, agora, devem ocorrer entre 23 de julho e 8 de agosto.
A Coreia do Sul, outro país desenvolvido e que teve sucesso na contenção da covid-19, também patina na vacinação. Administrou 1,38 dose para cem habitantes.
Essas nações estão atrás, por exemplo, de vizinhos pobres, como Camboja (1,68 para cem habitantes), Indonésia (3,01 para cem) e Malásia (1,49 para cem).
A situação não é muito melhor em nações desenvolvidas da Oceania. Austrália, por exemplo, aplicou apenas 1,21 dose por cem habitantes. E Nova Zelândia, cujo sucesso da gestão da pandemia alçou a primeira-ministra Jacinda Arden às manchetes internacionais, registra até agora apenas 0,56 dose por cem habitantes.
O fato de a situação estar controlada nesses países tem alguma relação com o atraso na imunização. O ministro responsável pela força-tarefa de controlar a covid-19 na Nova Zelândia, Chris Hipkins, afirmou que o país pode até atrasar a entrega dos lotes da vacina da Pfizer a fim de liberar o suprimento para outros países mais necessitados em curto prazo. O governo também já informou que pretende doar vacinas sobressalentes para outras nações. A Nova Zelândia teve no total 2,4 mil casos confirmados e 26 mortes, desde o início da pandemia.
O caso do Japão é diferente. O governo foi cauteloso com a vacinação devido a um histórico de desconfiança da população em relação a imunizações. O país tem uma das taxas mais altas do mundo em termos de resistência a vacinação. Muito deve-se a casos de mortes no passado - nos anos 1970, duas crianças morreram em um intervalo de 24 horas após receberem a vacina combinada contra a difteria, tétano e coqueluche. Por anos, as taxas de vacinação infantil caíram, levando a um aumento de casos. No final da década de 1980, houve problemas com a introdução da vacina tripla contra sarampo, caxumba e rubéola. Mais recentemente, 2013, houve campanhas contra a vacina contra o HPV após supostas reações adversas - não comprovadas cientificamente.
O Brasil, nesta quarta-feira (24), registra 7,16 dose por cem habitantes - segue atrás dos vizinhos Uruguai (10,84) e Argentina (7,17).