Os fura-filas da vacinação da covid-19, registrados em vários Estados, inclusive no Rio Grande do Sul, não são apenas um fenômeno de corrupção no Brasil.
Na semana passada, o ex-presidente francês Nicolás Sarkozy, de 66 anos, passou à frente dos demais cidadãos de seu país na busca pela imunização, aproveitando-se de contatos e privilégios do cargo que ocupou. Atualmente, na França, apenas trabalhadores da área de saúde, pessoas com comorbidades ou com acima de 75 anos podem receber a dose.
Na América Latina, casos como de fura-filas VIP resultaram na queda de ministros. No Peru, cerca de 500 pessoas, entre elas o ex-presidente que sofreu impeachment Martin Vizcarra, ministros (inclusive da Saúde) e outras personalidades receberam, secretamente, uma dose antes do início oficial da campanha de vacinação.
Vizcarra afirmou uma rede social que sua decisão "não causou nenhum prejuízo a ninguém e muito menos ao Estado". Causou, sim. À população e ao governo. E ainda aprofundou a imagem negativa de seu país, imerso em escândalos sucessivos de corrupção.
Vários outros "privilegiados" tiveram de dar explicação. Em carta aberta, a ministra da Saúde, Pilar Mazzetti, afirmou que a decisão de se vacinar foi a "pior de sua vida". "Não será suficiente pedir perdão a todos aqueles que decepcionei", afirmou, ao renunciar.
Também a ministra das Relações Exteriores, Elizabeth Astete, deixou o cargo:
- Estou ciente do grave erro que cometi, por isso decidi não receber uma segunda dose.
Na Argentina, o escândalo dos fura-filas forçou a demissão do ministro da Saúde Ginés González García, na sexta-feira (19). Foi descoberta uma verdadeira central de vacinação irregular dentro do ministério, caso que está sendo chamado de "vacuna gate" (a eterna referência ao Watergate, escândalo que derrubou Richard Nixon, nos Estados Unidos, nos anos 1970. O termo "vacuna", que, em espanhol, significa vacina).
Tudo começou quando o jornalista Horacio Verbitsky revelou em uma emissora de rádio que fora vacinado após fazer um pedido direto ao ministro.
- Liguei para o meu velho amigo Ginés González García, que conhecia muito antes de ele ser ministro e ele me disse que eu deveria ir ao Hospital Posadas. Quando estava a caminho, recebi uma mensagem de sua secretária, que me disse que uma equipe do hospital estava indo ao ministério e que deveria ir ao ministério para receber a vacina - contou à Rádio El Uncover.
Após essa revelação, vários jornais e emissoras de rádio e TV passaram a apurar o possível desvio. O La Nación descobriu que uma operação foi montada nas dependências do ministério para vacinar parlamentares, funcionários públicos e "amigos". Cerca de 3 mil vacinas foram reservadas para o órgão.
Na maior parte da Argentina, a vacinação é permitida, neste momento apenas profissionais de saúde - na quinta-feira (18), foi permitida a imunização de pessoas com mais de 70 anos, mas isso apenas na província de Buenos Aires.