Dignidade, respeito, capacidade de ouvir o outro, de enxergar o outro. Um ambiente de tolerância ao invés da divisão, de união contra a violência.
Poucas vezes na história contemporânea dos Estados Unidos um discurso de um presidente foi tão necessário. Biden não é um orador brilhante como seu parceiro de governo, Barack Obama. Mas foi certeiro.
Com várias referências a eventos traumáticos da pátria, como a Guerra Civil Americana e o 11 de Setembro, e resgatando os valores americanos e a superação de momentos difíceis, Joe Biden pregou a união nacional. A tragédia da covid-19 esteve presente em seus 24 minutos nas escadarias do Congresso. A necessidade de retomar a economia também. Mas a tônica da fala, com tons poéticos, foi um apelo pela concertação nacional.
Os Estados Unidos não estão rachados ao meio apenas desde a eleição do ano passado. Esse é um processo que começou muito antes, ainda anterior à disputa presidencial de 2016. Mas que se radicalizou nos últimos meses e culminou no ataque ao Congresso, em 6 de janeiro de 2021.
Em tom emocionado, com palavras que resgataram o melhor da América e sua contribuição, Biden fez uma fala de esperança, mas não deixou de tocar em feridas abertas pela polarização.
– Aprendemos mais uma vez que a democracia é preciso e é frágil – disse.
O democrata lembrou que, apesar das cenas de violência dos últimos dias, mais uma vez as instituições prevaleceram. E prova disso foi o ato desta quarta-feira (20) nas escadarias do Capitólio, o mesmo local onde duas semanas atrás a democracia americana foi maculada. Ainda que balançada, as instituições dos EUA estão de pé.
– Nesses campos sagrados onde a violência tentou abalar a fundação da capital, nos unimos para levar adiante a transferência de poder pacifica como fizemos em dois séculos – disse Biden.
Biden destacou que há um grito por justiça racial, que não é novo. Há 400 anos, os EUA são uma nação segregada. Mas prova de que mudar é possível, afirmou Biden, era o que estava ocorrendo ali: a posse da primeira vice-presidente negra da história americana, Kamala Harris.
– Sem união, não há paz, só ressentimento e medo. Só o estado de caos.
Foi um discurso no qual Biden propôs de certa forma a refundação dos EUA:
– Neste tempo, neste lugar, vamos começar tudo de novo.
E, por fim, ele se propôs a ser o presidente de todos os americanos, de quem votou e de quem não votou nele.
– Ouvir um ao outro, ver um ao outro, demostrar respeito. A política não precisa ser um fogo que destrói tudo pelo seu caminho. Não precisa ser causa para guerra total.