Não se pode dizer que é o fim da "primavera" venezuelana porque essa já nasceu morta.
O termo, tomado emprestado da Primavera dos Povos, em 1848, para classificar grandes revoluções, foi usado para a Primavera de Praga e para a Primavera Árabe. Na Venezuela, infelizmente, ela não existiu.
O domingo, 6 de dezembro de 2020, foi o dia do fim do sonho de Juan Guaidó e da consolidação da autocracia de Nicolás Maduro. Garantindo a maioria da Assembleia Nacional (o parlamento), o regime conquistou o último poder da República que ainda estava nas mãos da oposição. Sem resistência e com alta abstenção, Maduro tornou-se ainda mais senhor da Venezuela.
Com a vitória perfeita, Maduro encerra com mão de ferro, mas legitimado pelas urnas, mesmo que em eleições fraudulentas, o ousado e desesperado lance da oposição, iniciado em 2015, quando ela conquistou a maioria na casa. Depois que o herdeiro chavista foi eleito em 2018, também em um pleito "usurpado", Guaidó tomou de arroubo o cenário político, se autoproclamando presidente do país. Imediatamente, Estados Unidos, Brasil, Colômbia, União Europeia reconheceram o novo líder, em um afã de pôr fim à ditadura bolivariana.
Mas, passados quase dois anos, Guaidó sequer passou perto de lograr a prometida transição de poder em Caracas. Internamente, sem apoio dos militares, a revolução foi derretendo, e a oposição chegou à eleição legislativa de domingo comportando-se da mesma maneira que o fez quando Hugo Chávez estava no poder: ausentando-se por denunciar um processo fraudulento e fragmentada em meio a escândalos internos de corrupção ainda mal explicados.
Os Estados Unidos já anunciaram que não reconhecerão o resultado da votação, assim como a Organização dos Estados Americanos (OEA). O Brasil deve seguir essa linha. E os venezuelanos comuns, que sequer têm força para questionar resultados ou nem foram votar porque falta gasolina para se deslocar em da maiores reservas de petróleo do mundo, está, de novo, abandonado a própria sorte.