Segundo país com maior taxa de infecção por 100 mil habitantes na União Europeia (atrás apenas da República Tcheca), a Espanha vive uma sexta-feira (9) em que o medo da segunda onda do coronavírus e diferentes visões políticas e jurídicas sobre como combatê-la deixaram parte da população sem saber se poderia ou não se deslocar livremente pelo país na véspera do feriadão de 12 de outubro (Día de la Hispanidad, aniversário da primeira chegada de Cristóvão Colombo às Américas).
O pano de fundo é a queda de braço entre o primeiro-ministro Pedro Sánchez (do Partido Socialista, centro-esquerda) e a presidente da Comunidade de Madri, Isabel Díaz Ayuso (do Partido Popular, conservador). A disputa, que vem se arrastando desde o auge da pandemia, em março e abril, chegou esta semana a um impasse diante da intenção do governo central de reimpor medidas de restrição de deslocamento, diante do aumento dos casos de infecção.
A disputa terminou, na prática, com uma intervenção do governo central na região de Madri, determinando "estado de alarme", equivalente ao estado de emergência. Isso significa que nenhum cidadão poderá deixar os limites dos municípios no interior da Comunidade de Madri, uma das 17 regiões autônomas da Espanha e onde fica a capital. A medida vale para nove cidades – Madri, Alcobendas, Alcorcón, Fuenlabrada, Getafe, Leganés, Móstoles, Parla e Torrejón de Ardoz. No total, são cerca de 5 milhões de habitantes. Desde a tarde desta sexta-feira (9), 7 mil policiais estão controlando o fechamento da capital, com a possibilidade de multar quem descumprir as regras. Só é permitido sair dos municípios em caso de emergência ou apresentando justificativa às autoridades.
Durante os últimos dias, o governo da Comunidade de Madri e o prefeito da capital, José Luis Martínez-Almeida (também do PP) tentaram evitar o estado de alarme, por entenderem que a reimposição de medidas de restrição terá impacto negativo na economia _ em março, a Espanha foi um dos países mais atingidos pela pandemia e viveu várias semanas de lockdown. Os dois ganharam um round da disputa política na quinta-feira (8), quando o Tribunal Superior de Justiça de Madri anulou as medidas impostas pelo Ministério da Saúde. A Justiça entendeu que elas supõem "ingerência nos direitos funadamentais sem amparo legal". Logo, quem descumpria o decreto do governo central não podia ser multado.
Na quinta-feira, Sánchez deu um ultimato à comunidade de Madri para que aceitasse as medidas em comum acordo ou por meio de uma intervenção. Venceu a segunda opção, a pior – uma medida unilateral, que aprofunda o racha entre os socialistas e os conservadores.
A região de Madri é o epicentro da pandemia na Espanha. Lá, a taxa de contágio é de 700 casos a cada 100 mil habitantes. É mais do que o dobro do restante do país.