A decisão do presidente Jair Bolsonaro, que escolheu o professor de Engenharia Carlos Bulhões para o cargo de reitor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) - o terceiro da lista tríplice, e não o mais votado pela comunidade acadêmica -, traz de volta o debate sobre como grandes instituições públicas de Ensino Superior elegem os ocupantes do cargo máximo das entidades.
Mundo afora, na maior parte das universidades estatais não há voto direto. Mas a decisão recair sobre as mãos do presidente da República é raríssimo - nenhum dos casos abaixo, entre as maiores universidade do mundo.
Há diferentes modalidades: além da comunidade acadêmica e de órgãos de governo, empresários fazem parte da decisão.
O pano de fundo do debate na UFRGS, em meio à polarização na sociedade brasileira, é a necessidade de autonomia universitária e a percepção de que instituições financiadas por verbas públicas devem se submeter a algum tipo de controle por parte da sociedade que as sustenta.
Sucessivos relatórios da rede europeia de educação superior Eurydice deixam claro que não existe modelo predominante para a governança de educação superior. Um padrão que cresceu muito nos últimos anos é a participação de figuras de destaque na indústria e no comércio (external stakeholders) que são convidadas a participarem da discussão, com poder de voto. Na Europa, por exemplo, países como Grécia e Romênia não incluem figuras externas nos órgãos de tomada de decisões de suas universidades. Vem ganhando importância nos últimos anos na estrutura de governança das instituições agências de verificação de qualidade, responsáveis por padrões de qualidade e avaliações do ensino. .
Reino Unido
O reitor ou "chancellor" de grande parte das universidades britânicas é escolhido e nomeado pelo seu prestígio, sendo a função não executiva, mas sobretudo de representar a universidade, como o chefe de Estado em regimes parlamentaristas. Nesse caso, não são remunerados. A gestão do dia a dia cabe aos vice-retores (vice-chancellor), escolhidos por um conselho diretivo da universidade após processo de recrutamento público aberto.
Em Oxford, o posto é aberto a concurso público _ ou seja, os candidatos ao cargo não, necessariamente, precisam ser membros da instituição. O vice-chancellor (vice-chanceler) tem mandato máximo de sete anos e, desde 2000, não precisa mais ser escolhido entre membros da congregação, órgão deliberativo máximo da universidade, composto por professores, pesquisadores e funcionários.
Em Cambridge, não há eleição direta. O chancellor (equivalente a reitor) é eleito pelo senado da universidade (espécie de uma comissão acadêmica, composta por membros da Regent House, aos quais se somam todos os detentores de título de mestre e doutor concedidos pela universidade). A administração propriamente dita fica a cargo do vice-chancellor, que é eleito pela Regent House a partir de uma indicação feita por um conselho (principal órgão formulador de políticas da universidade, composto por professores, diretores de unidades e estudantes) e para um mandato de no máximo sete anos.
Na University College London, quem escolhe o reitor é um grupo de empresários e profissionais liberais eleitos pela comunidade acadêmica. Pode ser um docente da instituição ou alguém proveniente do setor privado.
Estados Unidos
São variados os modelos, mas a maioria passa pelo crivo de conselhos (boards), que contam com a participação do setor privado, de representantes da sociedade, do corpo acadêmico e, em alguns casos até de notáveis ex-alunos.
Diferentemente de instituições no Reino Unido, nos EUA universidade tradicionais têm estruturas internas bem menos democráticas, respondendo de forma direta a corporações independentes formadas por partes externas.
Uma das melhores universidades do mundo, Harvard não tem eleição. Há um pesquisa no ano anterior, em que a comunidade se limita a sugerir nomes, não há a obrigação de que sejam da própria universidade. E formada uma lista sêxtupla da qual se pinça o reitor. Na prática, ser reitor significa antes de tudo ser capaz de alavancar recursos financeiros para a instituição.
Harvard é controlada por dois órgãos deliberativos, a Corporação Harvard (President and Fellows of Harvard College e o Board of Overseers). Essa corporação é composta majoritariamente por figuras externas à vida da universidade. Ela se autoperpetua, escolhendo novos membros à medida em que surge a necessidade. É esse grupo que nomeia o presidente (cargo equivalente ao de reitor).
Na Universidade Estadual de Nova York (Suny), a escolha do reitor é feita por meio de um conselho de 18 membros, 15 deles nomeados pelo governador.
A Universidade de Michigan escolhe seu cargo mais alto por meio do conselho da entidade, que por sua vez é eleito em votação aberta pela população em geral a cada dois anos. Não é incomum os reitores permanecerem por longo prazo no cargo, até que sejam contestados pela comunidade acadêmica.
Na Universidade da Califórnia, detentora das instituições como Berkley e UCLA, o presidente é indicado pelo governador.
Espanha
Em geral, os candidatos apresentam sua intenção e são sujeitos a processo eleitoral. Votam estudantes, docentes e funcionários, em colégios eleitorais separados.
Portugal
A Universidade de Lisboa inovou alguns anos atrás ao abrir um concurso público internacional para o posto. Professores e pesquisadores de qualquer universidade do mundo que tenham qualificações podem participar.
Eslovênia e Grécia
Professores e alunos elegem em votação direta o reitor.
Dinamarca
O reitor é nomeado, de forma geral, por figuras externas à universidade.