Anunciado nesta quinta-feira (13), o acordo entre Israel e os Emirados Árabes Unidos, com o patrocínio dos Estados Unidos, está sendo comparado a tratados de paz históricos dos israelenses com o Egito (primeiro país a reconhecer Israel) e com a Jordânia. Menos: as ditaduras do Golfo nunca estiveram em guerra com Israel, ao contrário dos dois anteriores, além de Síria e Líbano, ainda hoje tecnicamente em conflito e, portanto, inimigos dos israelenses.
Mesmo assim, apesar dos toques de exagero dados por Trump e Benjamin Netanyahu, do ponto de vista da geopolítica da região, o acordo é muito importante. Primeiro porque alivia a tensão entre israelenses e palestinos sobre o plano de paz unilateral anunciado por Trump para a suposta paz entre os dois povos, que previa a anexação, por Israel, do Vale do Rio Jordão - o que, na prática, enterraria o sonho de dois Estados previsto pelas Nações Unidas. Ao aceitar o acordo de paz com as ditaduras do Golfo, Israel aceita adiar (não suspender) a ocupação dessa área.
Segundo: o acordo com os Emirados Árabes Unidos é um primeiro passo rumo a um tratado entre Israel e Arábia Saudita, com grande influência sobre todas as pequenas nações árabes da península. Os dois países têm trocado gentilezas há tempos. O príncipe herdeiro da Arábia Saudita, o maquiavélico Mohamed bin Salman (aquele acusado da morte do jornalista Khamal Khashoggi no consulado do país na Turquia), já deu declarações afirmando que os israelenses têm direito ao próprio Estado, como já escrevi aqui.
Trata-se de uma aliança de conveniência: tanto Israel quanto os árabes têm no Irã xiita o verdadeiro inimigo.
No fundo, o acordo entre Israel e Emirados Árabes (e no futuro com a Arábia Saudita) obedece à máxima das relações internacionais segundo a qual "o inimigo do meu inimigo é meu amigo". Diante da mini guerra fria pela hegemonia da região, travada entre sauditas (árabes, em sua maioria muçulmanos sunitas) e iranianos (persas, de maioria seguidora do Islã xita), Israel engajou-se em um dos lados - escolheu os sauditas, principais parceiros dos EUA no Golfo. É uma forma de, por maneiras diferentes, unir forças contra os aiatolás, que influenciam a política na Síria e no Líbano, por meio do Hezbollah, e representam uma ameaça à existência do país.
No plano saudita, o Oriente Médio se divide entre um “triângulo do mal”, que une Irã, Irmandade Muçulmana e grupos terroristas xiitas de um lado, e uma aliança de Estados moderados, que inclui Jordânia, Egito, Emirados Árabes Unidos, Bahrein e Omã - e até Israel. Vale tudo para barrar o avanço do Irã e se tornar nação hegemônica: bombardear os houthis no Iêmen (aliados dos aiatolás) e até abraçar antigos inimigos, como Israel. Do lado israelense e americano, a união com os árabes é um tudo ou nada contra o Irã.