Os líderes mundiais expressaram, nesta sexta-feira (14), a esperança de que um acordo histórico para normalizar as relações entre os Emirados Árabes Unidos e Israel resulte na retomada das negociações de paz no Oriente Médio, enquanto os palestinos e alguns de seus aliados o veem como uma traição.
Os Emirados Árabes Unidos e Israel devem assinar dentro de três semanas em Washington o acordo anunciado de surpresa na quinta-feira (13) pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
O acordo foi concluído sob mediação dos Estados Unidos e fará dos EAU o terceiro país árabe a seguir este caminho desde a criação do Estado hebreu em 1948, depois do Egito e da Jordânia.
Como parte do acordo, Israel se compromete a suspender seu projeto de anexar territórios palestinos, uma concessão saudada por governos europeus e alguns governos árabes como um incentivo às esperanças de paz.
Mas o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, declarou que a anexação de partes da Cisjordânia, território ocupado por Israel desde 1967, ainda está nos planos.
O presidente Trump anunciou o acordo em um tuíte como sendo um "GRANDE avanço" e um "acordo de paz histórico entre nossos GRANDES amigos". Segundo o americano, os líderes de ambos os países assinarão o acordo na Casa Branca em cerca de três semanas.
O estabelecimento de laços diplomáticos entre Israel e os aliados de Washington no Oriente Médio, como as monarquias do Golfo, foi fundamental para a estratégia de Trump na região para conter o Irã, também inimigo de Israel.
- Ira palestina -
Netanyahu comemorou um "dia histórico", que inauguraria uma "nova era" para o mundo árabe e para Israel.
No entanto, os palestinos rejeitaram categoricamente o acordo, chamando-o de uma "traição" à sua causa, incluindo sua reivindicação de tornar Jerusalém Oriental - anexada e ocupada por Israel - a capital do Estado que aspiram.
Assim como anunciaram que retirariam seu embaixador dos EAU e solicitaram uma reunião de emergência da Liga Árabe.
"Tento entender por que é uma traição quando estamos abrindo uma porta para Israel repensar seu projeto de anexação", afirmou Omar Saif Ghobash, vice-ministro das Relações Exteriores dos EAU, à AFP.
Na sexta-feira, após a oração muçulmana do meio-dia em Jerusalém, em frente à mesquita de Al Aqsa, os fiéis pisotearam as fotos do príncipe herdeiro de Abu Dhabi, Mohammed bin Zayed Al-Nahyan.
Na cidade ocupada de Nablus, na Cisjordânia, várias pessoas queimaram imagens do xeque dos Emirados, de Netanyahu e de Trump.
"O povo palestino foi apunhalado pelas costas pelos líderes dos Emirados. Mas nem esse acordo ou qualquer outra coisa destruirá nossa vontade de lutar pela liberdade e a independência", ressaltou Jihad Hussein, um morador de Ramallah (Cisjordânia).
Por sua vez, o Irã e a Turquia, que apoiam o Hamas, criticaram fortemente a "traição" dos Emirados Árabes Unidos.
O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, que frequentemente está em desacordo com as potências ocidentais, criticou Israel e ameaçou suspender as relações diplomáticas com os EAU ou chamar o embaixador em Ancara para consultas.
A Turquia acusou os Emirados de "trair a causa palestina" ao concordar em assinar este acordo apoiado pelos Estados Unidos para "servir a seus interesses mesquinhos".
O Ministério das Relações Exteriores iraniano disse que os palestinos "nunca perdoariam a normalização das relações com o regime criminal de ocupação israelense".
"É uma traição a Jerusalém e ao povo palestino", afirmou Hassan Nasrala, líder do movimento xiita libanês Hezbollah, aliado a Teerã.
Paralelamente, países aliados aos Estados Unidos no Golfo, como Bahrein e Omã, emitiram declarações a favor do acordo.
- Passo benéfico -
O polêmico plano de paz de Donald Trump, revelado em janeiro, ofereceu a Israel um caminho para anexar o Vale do Jordão e os assentamentos judeus na Cisjordânia ocupada, considerados ilegais pelo direito internacional.
Os palestinos rejeitaram o acordo por considerá-lo muito favorável a Israel e insustentável, assim como os vizinhos árabes de Israel, e isso aumentou o temor de uma nova escalada em uma região onde as tensões são altas.
Depois que o acordo EAU-Israel foi anunciado, o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, viu "uma oportunidade para os líderes israelenses e palestinos retomarem negociações substantivas, levando a uma solução de dois Estados de acordo com as resoluções das Nações Unidas".
A anexação "fechará efetivamente a porta" às negociações entre as lideranças israelense e palestina e "destruirá a perspectiva" de um Estado palestino viável, disse ele.
O presidente egípcio, Abdel Fattah al-Sissi, país que assinou o primeiro tratado de paz com Israel em 1979, elogiou o acordo sobre "o fim da anexação israelense de territórios palestinos", e disse que esperava a "paz".
Trata-se de uma postura compartilhada pelos aliados europeus dos Estados Unidos. A União Europeia celebrou o acordo como um passo benéfico para os dois países e para a "estabilidade regional".
O pacto marca uma importante conquista de política externa para o presidente Trump, que enfrenta uma difícil campanha para ser reeleito em novembro.
* AFP