Na competição pela descoberta de uma vacina contra o coronavírus, há pesquisadores de universidades que integram o chamado Sul Global, porção menos desenvolvida do planeta, que estão correndo por fora.
No final de semana, vários jornais africanos destacaram o anúncio de estudiosos da Nigéria que afirmaram ter descoberto uma vacina contra a covid-19. Embora a declaração tenha sido cercada de otimismo, o trabalho da Universidade de Adeleke, no Estado de Eda, ainda precisa passar por várias fases de testes - o que, segundo Oladipo Kolawole, líder do Grupo de Pesquisas Covid-19 da instituição, pode levar no mínimo 18 meses. A pesquisa nigeriana foi financiada pelo Laboratório de Imunodeficiência Trinity e pela Helix Biogen Consult.
Embora em fase inicial, o estudo nigeriano foi saudado por pesquisadores internacionais devido ao fato de o protótipo de vacina ter surgido e avançado em um país fora do mundo desenvolvido ou dos grandes laboratórios que disputam a primazia pela descoberta. Há mais de 130 pesquisas no mundo atualmente em busca da vacina - três delas lideram a corrida: do Reino Unido (da Universidade de Oxford, na fase mais avançada das testagens, que serão feitas no Brasil e na África do Sul), da China (que também será testada no Brasil, por meio de uma parceria entre o laboratório Sinovac com o Instituto Butantan) e dos Estados Unidos.
No continente africano, a África do Sul inicia nesta quarta-feira (24) os testes em parceria entre Oxford e a Universidade de Witwatersrand.
Nessa corrida por fora, 30 países, entre eles o Brasil, participam de uma força-tarefa chamada C-TAP (união de acesso à tecnologia para a covid-19) para trabalhar em rede para compartilhar informações e dar acesso a tecnologias que possam conduzir a uma vacina. O grupo foi idealizado pela Costa Rica e é coordenado pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Dos 30, apenas quatro são de países desenvolvidos (Luxemburgo, Noruega, Portugal e Holanda). Entre os em desenvolvimento, participam, além de Brasil, Argentina, Bangladesh, Barbados, Belize, Chile, República Dominicana, Líbano, Indonésia, Timor Leste, Uruguai, Egito, entre outros.
Uma preocupação, quando a vacina ficar pronta, será a distribuição do produto. Quem terá prioridade? Países como França e China têm defendido que uma vacina deve ser bem público global e há preocupação em especial com África e América Latina, continentes que vivem, neste momento, a fase mais dramática da pandemia. Essa visão não é compartilhada pelo governo americano. O presidente Donald Trump tem sugerido que, embora compartilhe conhecimento científico, priorizaria a produção de doses para a população americana desde o início.