As segundas-feiras têm sido especiais na Europa. É normalmente no primeiro dia útil da semana que entram em vigor as medidas de desconfinamento da população, em uma espécie de efeito cebola - em camadas, de dentro para fora -, um lento e cuidadoso processo de reabertura após o auge da crise.
Primeiro, os governos relaxaram suas restrições internamente - permitindo passeios em praças e parques, retomando a vida nos cafés e pubs e permitindo pequenas viagens ao interior. No dia 15, a maioria dos países reabriu suas fronteiras aos vizinhos. Nesta segunda-feira, 22, foi a vez de a Espanha, um das nações mais devastadas pela covid-19, a levantar seus limites territoriais para a entrada de cidadãos de todas as nações da União Europeia (exceto Portugal) e com aquelas que, fora do bloco, são signatárias do Tratado de Schengen.
Justamente quando o continente caminha para o que deveria ser o grande dia - desta vez em uma quarta-feira, 1º de julho -, o coronavírus dá mostras de como pode ser traiçoeiro. Nesse dia, a UE pretende se abrir ao mundo, levantando as fronteiras e passando a receber turistas de todos os países de fora do bloco, exceto provenientes de nações onde a doença ainda está descontrolada, ao que tudo indica Brasil e Estados Unidos.
Mas há um clima de preocupação no ar. Nas últimas semanas, vários países europeus apresentaram novos focos. Na Alemanha, há pelo menos três - um bloco de apartamentos em Gottingen, no centro do país, com mais de cem infecções, o que obrigou a colocar em quarentena 700 moradores de um bairro. No sul de Berlim, cerca de 70 moradores contraíram o coronavírus no distrito de Neukohlln, colocando em quarentena 370 famílias de sete blocos residenciais. Em uma fábrica de carne processada, 657 trabalhadores foram infectados, obrigando 7 mil pessoas a entrarem em quarentena no Estado da Renânia do Norte-Vestfália.
Como na fase do desconfinamento, todo cuidado é pouco para evitar que um foco vire um surto e que um surto transforme-se em transmissão comunitária, alguns governos reimplantaram algumas das restrições que haviam sido retiradas.
Nesta segunda-feira (22), Portugal, exemplo de contenção do vírus, deu um passo atrás na retomada das atividades: em Lisboa, o limite para reuniões de pessoas foi novamente reduzi para no máximo 10. Lojas, cafés e bares terão de fechar às 20h em toda a região metropolitana. Cerca de 63% dos casos do país estão na região de Lisboa. O Norte não tinha tantas novas infecções desde 19 de maio.
A Bélgica fechou de novo algumas escolas.
Já o Reino Unido observa um sobe e desce das estatísticas, que dificulta o entendimento de uma tendência. Por exemplo: se em 16 de junho, houve 546 casos a menos do que no dia anterior, em 17, aumentou para 311, voltando a cair nas 24 horas seguintes. A montanha-russa dos números mostra que a situação ainda não está sob controle, embora os dados de novos doentes estejam bem mais baixos do que em abril e maio. O país é o terceiro do mundo com maior número de mortes - atrás de EUA e Brasil.